Quais foram os passos dados para que, no dia 21 de setembro, a primeira cirurgia cardíaca fosse realizada?
Tudo começou com o Dr. Paulo Roberto Ferreira Tartuce. Ele tem um grande mérito nesse processo. Há quatro anos ele me ligou e perguntou “Mário, você quer vir operar em Rio Verde?”. Eu respondi que sim. Na época eu não tinha condições de atender o chamado, mas a gente pensava em montar uma estrutura e já sonhava que era possível. Ele me fez acreditar na idéia. Com isto fizemos várias reuniões. Eu vim várias vezes a Rio Verde. Foi uma longa batalha. Começou com hemodinâmica e cardiologia intervencionista aqui em fevereiro desse ano. Este foi o primeiro passo para a cirurgia cardíaca. A partir daí tivemos mais chances de vir pra cá porque o Hospital Evangélico Dr. Gordon e a hemodinâmica fizeram investimentos muito altos. Para a cirurgia cardíaca atuar em um local é preciso ter várias especialidades e muitos exames em volta: hemodinâmica, ecocardiograma, tomografia, uma UTI e um centro cirúrgico muito bem aparelhados, os anestesistas especializados, enfim, muita coisa que não acontece da noite para o dia e sem muita devoção. Toda essa melhora já foi um benefício muito grande para os pacientes da região. A partir daí, quando a gente viu que existia toda essa estrutura começamos a fazer um investimento maior, que culminou com a primeira cirurgia. Uma troca de válvula aórtica com um implante de prótese metálica. Ela é feita por uma máquina de circulação extra-corpórea. O coração pára e enquanto isso a máquina fornece sangue e oxigênio para os outros órgãos. Trocamos a válvula e o coração volta a bater novamente. Enfim, houve uma estruturação muito grande para que essa cirurgia pudesse ser feita.
A estrutura está totalmente pronta?
Noventa e nove por cento pronta, eu diria. A partir de agora alguns detalhes vão ser azeitados. Pode ter certeza que essa especialidade precisa de muito mais estrutura do que qualquer outra especialidade. Tive esperança de que era possível. O hospital fez várias reformas na UTI, no centro cirúrgico, comprando vários aparelhos novos, como ventiladores mecânicos e monitores. O hospital mandou um perfusionistas e dois anestesistas para treinamento em Goiânia.
Dessa vez viemos em três médicos: eu, um perfusionista e um anestesista. Uma instrumentadora também nos auxilia. Tivemos de trazer todo o material cirúrgico. Nos primeiros seis meses nós traremos todo esse material. Posteriormente, o material vai ser comprado e deixado no Dr. Gordon.
Qual é a capacidade de atendimento? De início, quem pode se beneficiar disso?
Inicialmente, estamos atendendo alguns convênios como Unimed e Ipasgo, principalmente. O credenciamento como instituição de alta complexidade já foi solicitado pelo hospital ao SUS há nove meses e ainda esperamos resposta. Fizemos um estudo da população atingida e, em todo o sudoeste goiano, iremos beneficiar algo em torno de 700 mil pessoas. Em todo o Brasil, 80% das cirurgias cardíacas são realizadas pelo SUS.
Com que freqüência as cirurgias estão sendo realizadas?
Na verdade, como Rio Verde tem os grupos de hemodinâmica e grupos de cardiologia, eles resolvem algo perto de 90% da demanda. Quando existe a necessidade da cirurgia a gente vem. Acredito que inicialmente viremos duas vezes por mês. Com o credenciamento do SUS, deveremos operar praticamente todos os dias.
Existe alguma expectativa de data em relação ao credenciamento do SUS?
A minha esperança é que isso ocorra até o final do ano. Em dezembro, talvez. A solicitação foi feita em dezembro do ano passado, e a resposta ficou de ser emitida dentro de um ano. Para o credenciamento como centro de alta complexidade, temos de passar por vistoria do ministério público, ministério da saúde, secretarias municipal e estadual de saúde. Após a aprovação desses, vem o pessoal do Instituto do Coração de São Paulo e alguém do governo federal. Atualmente foi feita vitória municipal e estadual.
A chegada dessa evolução pode acarretar na chegada de outros serviços médicos igualmente importantes e ainda inéditos na região?
Tenho certeza absoluta disso. O início foi a hemodinâmica, agora a cirurgia cardíaca e, posteriormente, outros serviços como a ressonância magnética. Tudo isso vem junto. O bom é que quando se traz um serviço de alta complexidade vêm outros benefícios atrás. Quando você traz um serviço de alta qualidade, como a cirurgia cardíaca, a gente sempre traz gente boa junto. Tem que ter pessoas de gabarito para fazer o pós-operatório, a clínica desse paciente mais tarde, o atendimento, os anestesistas melhoram sua capacidade de atendimento. Com isso, a melhora vai ser global. É preciso de uma formação muito qualificada para possibilitar tudo isso.
