terça-feira, 6 de novembro de 2007

Entrevista com Wagner Guimarães

Foto de Denísia Moura


O deputado estadual Wagner Guimarães (PMDB) está mais motivado do que nunca. Otimista com os resultados do último encontro do partido em Rio Verde, ele visitou a sede da Tribuna, no dia 29, e falou sobre as chances de se aliar ao seu colega de Assembléia Padre Ferreira (PSDB) para disputar a sucessão do prefeito Paulo Roberto Cunha (PP). Com um pé atrás em relação a coligações descabidas, ele admite ter medo de acordar ao lado de forças que buscam única e exclusivamente o poder. "Esta sempre foi a minha maior dificuldade", explicou. Em um desabafo, aproveitou para mandar um recado ao secretário municipal de Transportes, Sidnei de Sousa: "Venha brigar com o Wagner Guimarães, e não com um coitadinho."

Quando se fala na possibilidade de PMDB e o PSDB se unirem para disputar a sucessão municipal em Rio Verde, a grande questão é saber qual dos dois aceitaria abrir mão da cabeça de chapa. Qual é a chance real da aliança se concretizar e de que forma ela se daria?
Eu não sei responder qual é a chance real disso acontecer. Agora, é uma coisa viável, sim. Caso contrário, eu nem estaria trabalhando nesse sentido. Mas creio também que ainda é muito cedo para discutir o processo sucessório e não entendo o motivo da deflagração de toda essa discussão, inclusive com nossos sendo apontados tão cedo. Todos nós sabemos das dificuldades de uma campanha e acho que a próxima será ainda mais complicada. Enquanto não for adotada a prática de se fazer política conversando com a população, a coisa não avança e as campanhas continuarão à base de alto custo financeiro. Então, eu creio que essa possibilidade existe, senão eu nem comentaria o assunto com você. Agora, terá sucesso? Não sabemos. Não concordo quando se fala que todos devem se unir para derrotar o atual prefeito, apesar de toda a sua incompetência e ineficácia. Não penso por esse lado. Penso que, dentro do possível, devemos formar uma aliança política visando o bem da cidade de Rio Verde. Não concordo com essa idéia de quanto pior, melhor. Existem pessoas que acham que talvez me falte dizer certas palavras contra o prefeito. Primeiro que não é uma briga pessoal. Deixo bem claro que não tenho nenhuma aproximação de afeto ou de fraternidade por ele, mas também não levo a questão política para o lado pessoal ou avalio que, quanto pior for a sua administração, melhor será para o meu grupo. Então, é possível essa aliança, mas dentro das forças políticas não sei se vai prevalecer essa possibilidade entre PMDB e PSDB. Nunca dei nenhuma entrevista dizendo que sou candidato a prefeito. Eu sou um pré-candidato. Dependo, antes de qualquer acerto com outros partidos, do PMDB para ser candidato. Eu posso te declarar é que não serei candidato a vice. Como também, se fizermos aliança com o PSDB, acredito que o deputado Padre Ferreira não aceitará ser candidato a vice. Eu, particularmente, não vou deixar de exercer o restante do meu mandato na Assembléia Legislativa para ser candidato a vice.

Uma coligação entre PMDB e PSDB seria apenas um projeto de poder ou existem realmente afinidades ideológicas entre as duas siglas no Estado?
Eu considero extremamente oportuno o seu apontamento. É justamente baseado nessa premissa que eu digo sempre que tem que ser uma aliança visando melhorar a cidade de Rio Verde. Tenho uma dificuldade enorme de fazer alianças por causa dessa questão sempre tão crucial. Diante de uma campanha, não adianta fazer aliança visando apenas a vitória. Temos de ter consciência de que, depois da vitória, vem um período muito mais sério, que é o exercício do poder. Se você ganhar e acordar com forças completamente antagônicas - não vou dizer no campo ideológico, até porque nesse sentido os partidos estão todos nivelados por baixo -, tem de ter algo a mais em comum para poder desempenhar o poder dentro de um esquema de forças a princípio adversárias, porém imbuídas do propósito de fazer o melhor pela coletividade. Esta é a minha grande dificuldade. Por incrível que pareça, de todos os partidos, PMDB e PSDB são os que deveriam ter as maiores afinidades. Muita gente não sabe a origem das duas siglas. O PSDB nada mais é do que uma dissidência do PMDB que começou no Estado de São Paulo. Em Goiás, é que se criou toda essa diferença, uma divergência muito mais pessoal do que de princípios e conceitos. Antes de dar meus passos, eu converso internamente no partido. Conversei com o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, muito antes de que fosse aventada a possibilidade de se fazer essa aproximação. É uma questão local, uma questão de Rio Verde.

Como o senhor avalia o quadro do PMDB após o fim do período de filiações partidárias?
Muito mais do que minha avaliação, a maior resposta para essa pergunta é o sucesso que foi o encontro do PMDB, realizado no dia 27, no tatersal do Sindicato Rural de Rio Verde. Sem paixão, sem nada, digo que, de todos os eventos políticos que participei, esse foi o melhor em todos os sentidos. Seja pela presença de membros do partido, visitantes de partidos aliados ou que podem se tornar aliados, visitantes ilustres, etc. Recebemos muitas forças políticas de fora do PMDB. Foi uma demonstração da importância da sigla hoje no contexto da política em Rio Verde. Recebemos várias filiações. Sem querer desmerecer qualquer uma delas, duas me agradaram muito pelo significado histórico da política local: a do vereador Cesinha e a do ex-vereador Gerlos. Os dois são de famílias tradicionais e nunca estiveram ombreados ao PMDB na política local. Essas filiações valem muito pela qualidade. Ambos têm uma representação partidária muito grande. O partido tem que ter responsabilidade ao oferecer uma ficha de filiação. Não adianta ter 10 mil filiados. O que interessa é o mínimo necessário por exigência legal, mas que sejam pessoas comprometidas com os ideais da legenda.

Renata Nascimento, que foi candidata a vice-prefeita na sua chapa em 2004, trocou o PMDB pelo PDT, dizendo-se insatisfeita com a intenção do senhor disputar mais uma vez o Executivo rio-verdense. Outras figuras do PMDB de Rio Verde também se posicionam contrárias a uma nova candidatura de Wagner Guimarães. O que falta para compor o consenso interno?
Eu abomino o consenso interno no sentido que passou a ser empregado. Consenso não se faz atendendo caprichos de um pequeno grupo. O acordo não pode ser pessoal. Começa por aí. Todos que participamos de partidos políticos naturalmente temos projetos e idéias, mas nada disso pode ser pessoal. Esta é uma diferença que muitos ignoram. Nunca fui ungido dentro do PMDB a ser candidato. É bom ficar claro que eu fui presidente do PSDB e candidato a deputado estadual em 1994 com uma votação extremamente pequena e, logo que o PSDB chegou ao poder, eu saí e fiz uma opção pelo PMDB, indo para a oposição. É mérito? Acho que não. É questão de princípio político. Eu nunca estive em busca simplesmente de poder ou de suas benesses. A minha postulação à prefeitura em 2000 foi importante para o partido. Minha eleição em 2002 foi conseqüência disso e a mesma coisa em 2006. Eu não tenho receio de entrar em uma campanha. Em 2000 e 2004, enfrentei o atual prefeito, um cara que foi deputado federal e candidato a governador com o meu voto. É um direito de qualquer companheiro pretender disputar também. Mas eu nunca ameacei o partido. Eu nunca disse: 'ou sou candidato ou vou sair'. Não estou dizendo que minhas candidaturas foram unanimidades, mas que isso é natural. Tenho a minha linha. Jamais briguei com companheiros e não tomei nenhum ato cujo objetivo não fosse dignificar tanto o mandato quanto o partido na atuação parlamentar. Então, se o partido me tolher de uma pretensão, não é por isso que vou virar as costas e ir embora. Eu não fui para o PMDB porque havia uma grande possibilidade de Maguito Vilela se tornar governador em 2006.

O senhor disse que espera que essa campanha seja ainda mais difícil do que as anteriores. Por quê?
Eu não terei dificuldades porque até hoje sempre banquei as minhas campanhas. Acho que poderá ser mais difícil porque os rigores da lei estarão mais presentes do que nas outras campanhas. E isso é correto. Afinal, ninguém pode esperar boa coisa de quem gasta uma fortuna para conseguir um mandato. Duvido que uma pessoa destas esteja imbuída de bons propósitos. Tenho esperança nesse sentido. A consciência da população obriga o político a ter certos direcionamentos. Estou falando de cobrança popular.

Para que um candidato gaste os rios de dinheiro que o senhor falou em uma campanha, naturalmente isso só pode ocorrer com o financiamento de grandes forças econômicas.
Não sei falar sobre essa questão de comprometimento de candidato com empresas. Eu sempre banquei minhas campanhas utilizando recursos próprios, mas encerrei essa etapa. Eu tenho um certo patrimônio, mas não pretendo sacrificar mais a minha família por questões políticas. Demonstrei que é possível fazer campanha com respeito à inteligência do eleitor. Eu não estou na política para ser mais um dos que prometem e tapeiam. Hoje mesmo eu dei carona para um amigo que perdeu a bolsa estudantil da prefeitura que ele tinha ganhado na Fesurv. Houve promessa de bolsa integral na Fesurv, o que não aconteceu. E a 'grande' bolsa da OVG não está sendo repassada. Assim são as promessas. Aí tem que chamar o Didi Mocó pra fazer o 'me engana que eu gosto'. Tirando a campanha de 2000, em que o partido nos forneceu uma produtora, nunca recebi qualquer ajuda financeira. Os candidatos locais aproveitavam os eventos do candidato do partido ao governo. A frustração está aí. Quero aproveitar esse desapontamento e fazer um desabafo. Eu tenho uma patrola que foi comprada em um leilão público há alguns anos. Comprei a máquina para não depender de poder público e não depender de vontade de prefeito. Embora da minha fazenda saiam cerca de R$ 200 mil só de ICMS, dependo de 24km das minhas terras - metade no município de Paraúna e metade em Rio Verde - para chegar até o asfalto. Paguei R$ 70 por hora para uma pessoa fazer o serviço. Acontece que o secretário de Transporte de Rio Verde, Sidnei Silva e Sousa, foi lá embargar, alegando que a máquina estava sendo usada para fazer política e que tudo estava sendo feito para uso posterior. Ele ameaçou até apreender a minha máquina, mas felizmente não o fez. Só que o mesmo secretário se esquece de que, ao lado da minha fazenda, foram máquinas do município prestar serviço em uma propriedade particular. Eles não foram arrumar uma estrada, mas prestar serviço em uma fazenda. Eu uso a minha máquina, ou seja, não devo satisfação para secretário ou prefeito. Quero é que ele explique a prestação de serviço em outro município, em uma propriedade particular. Será que eu não tenho gravações? Talvez eu tenha filmagens e fotografias. Pode ser que eu tenha registro do maquinário. É um funcionário da prefeitura que trabalha quando está de folga. Não é de graça, até porque ele precisa complementar a renda. Por isso, acho que ele está no corredor e vai ganhar só o básico. Venha perseguir o Wagner Guimarães. A gente tem que brigar com gente do nosso tamanho ou maior.

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