terça-feira, 25 de novembro de 2008

Tragédia anunciada

Tragédia anunciada
Estudo demonstra que o cálculo da área de drenagem do Lago Municipal foi subdimensionado e que estrutura é incapaz de dar vazão às aguas da chuva numa área de mais de 40km²

Fernando Machado

Principal promessa de campanha da atual administração, o Lago Municipal constitui uma ameaça iminente a dezenas de bairros de Rio Verde e para a preservação da fauna e flora. A obra, que está sendo feita no Setor Interlagos, já consumiu pelo menos R$ 975 mil de verbas federais advindas do Ministério do Turismo e ainda parece estar longe de ser concluída. Às margens da barragem, onde já deveria ter sido feito o reflorestamento e a construção de uma orla, estão sendo jogados entulhos e caminhões da prefeitura são vistos retirando terra do local. O problema mais grave da obra, contudo, ficou demonstrado em um estudo técnico feito pelo engenheiro agrícola e professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Rio Verde (Cefet) Bruno Botelho Saleh, elaborado a pedido do vereador José Henrique de Freitas. Depois de analisar as imagens via satélite, o especialista chegou à conclusão de que o cálculo da área de drenagem feito pela prefeitura possui graves erros de dimensionamento, colocando em risco a segurança de toda a população que vive às margens do Córrego Esbarrancado e também a fauna e a flora do entorno. As informações contidas em um documento intitulado “Outorga D’água Barramento – Lago”, segundo Saleh, não condizem com a realidade local. O parecer técnico, que já foi enviado pelo vereador para a Promotoria Estadual de Meio Ambiente, descreve que a área de drenagem ou área de contribuição da micro-bacia do Córrego Esbarrancado é quase cinco vezes maior do que o calculado pela Secretaria de Municipal de Obras. Ao invés de apenas 8,9 quilômetros quadrados de área de drenagem, como estimou a prefeitura, as águas do lago serão formadas pelas chuvas que caírem em uma área de 44,18 km². O engenheiro agrícola especializado em Saneamento Rural e Controle Ambiental informa que a capacidade do extravasor de água, considerada a parte mais importante da obra no que diz respeito à segurança, é calculada com base na área de drenagem. Dessa forma, a vazão de enchente pode causar o rompimento da represa. “É impossível prever, mas a tragédia pode acontecer daqui a algumas horas, dias ou meses”, explica.O subdimensionamento da capacidade de vazão da água não leva em consideração a existência de três barragens de médio porte da Fesurv e de um tanque localizado em um pesque-pague dentro da área de contribuição da micro-bacia do Esbarrancado. Saleh lembra que, em fevereiro de 2007, o pivô central das barragens da universidade foram arrombados pela água e afirma que o problema pode se repetir com conseqüências mais graves. “A reconstrução da barragem foi feita sem qualquer critério ou responsabilidade técnica junto à inspetoria do Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia)”, alerta. O professor explica que o rompimento das barragens acima do Lago Municipal causaria um efeito cascata nos tanques de água, que teria conseqüências em vários pontos do perímetro urbano. “Caso ocorra o rompimento, um grande volume de água sairá do Interlagos, onde o lago está situado, atravessará a Avenida Presidente Vargas e irá percorrer vários bairros até parar perto do sistema de tratamento de esgoto da Saneago, na Vila Promissão”, descreve. O processo de urbanização do Setor Interlagos comprometeria ainda mais a segurança da obra. “A impermeabilização do solo causada pela pavimentação asfáltica faz com que a água escoe com mais força e rapidez para o lago. Além disso, o risco do esgoto sanitário contaminar o lençol freático é grande”, complementa.
TransparênciaO vereador José Henrique de Freitas reclama da falta de transparência da Secretaria Municipal de Obras na construção do empreendimento. “O titular da pasta se nega a apresentar o projeto”, critica. Ele considera que os entulhos que estão sendo levados para as margens do lago aumentam a preocupação com a segurança da obra. “Não conseguimos entender a finalidade disso. Será que querem fazer a terraplenagem utilizando entulhos?”, questiona, apontando restos de lixo, como garrafas, sacolas e materiais de construção às margens do lago. Ainda segundo o vereador, a empreitada estaria sendo feita sem ter ocorrido o processo de licitação pública para a escolha da construtora: “Além disso, ninguém sabe informar de quanto é o orçamento da obra. O fato é que a verba para a construção da orla já foi sacado.”Em discussão sobre o assunto na Câmara Municipal na última semana, o vereador Luiz César de Castro, o Cesinha, insinuou que a verba de quase R$ 1 milhão do Ministério do Turismo teria sido desviada pela prefeitura para cobrir gastos com a campanha eleitoral. “Isso é desvio de verba federal”, denunciou. Procurados pela reportagem, os secretários Evandro Fiúza (Obras) e Jair Leão (Agricultura e Meio Ambiente) não foram encontrados para prestar esclarecimentos.

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