Compreensão das mudanças no perfil dos cidadãos aptos a votar deverá ser ponto-chave para quem almeja a vitória nas eleições municipais da região
Fernando Machado
Nas eleições que acontecem em outubro, os candidatos a prefeito e a vereador nos municípios do Sudoeste encontrarão um quadro modificado e bem mais complexo do que existia nos pleitos anteriores. Ao mesmo passo que acarretou intenso crescimento populacional, a industrialização da agricultura na região foi acompanhada de uma mudança proporcional no perfil do eleitorado nos últimos dez anos. Em Rio Verde, os interessados na chefia do Executivo e em um assento na Câmara Municipal toparão daqui a pouco mais de seis meses com um eleitorado 38% diferenciado daquele que existia há oito anos. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de habitantes aptos a votar subiu de 67 mil em 2000 para mais de 93 mil já prontos para ir às urnas este ano, aumento superior a um quarto do total.
Pólo econômico da região, Rio Verde não foi a única cidade a constatar metamorfoses no perfil do seu eleitorado graças à chegada de emigrantes. Em Mineiros, onde a zona eleitoral local registrou crescimento de mais de 25 % de 2000 para cá, a cara do eleitorado também mudou drasticamente. A instalação de multinacionais e a conseqüente chegada de trabalhadores de todo o País, especialmente das regiões Norte e Nordeste, fizeram com que o eleitorado crescesse outros 16 % de 2006 até hoje. A média de crescimento no Estado nos últimos oito anos foi de 5,32% e de 5,22 % na estatística nacional. O acréscimo eleitoral em Montividiu dentro do mesmo prazo foi de quase 6%. Em Quirinópolis, onde a oferta de empregos cresceu mais de 14 vezes nos últimos três anos, o eleitorado aumentou 4 % das eleições de 2006 para a atualidade. Em Jataí, a adição foi superior a 5%. Em Rio Verde, as duas zonas eleitorais registraram 8,5% a mais de eleitores das últimas disputas estaduais e federais.
“Muda a referência”
Cientista político e pró-reitor de uma universidade em Anápolis, Itami Campos entende que somente o tempo dirá se a transformação poderá ser benéfica ao processo de representação política, mas assegura que é um ponto-chave das disputas que serão travadas nos municípios do Sudoeste. “Não há como ignorar essa realidade no planejamento estratégico das campanhas. Um desafio que será decisivo para quem tiver inteligência para explorá-lo.” Ele compara a mudança de perfil dos eleitores da região com a ocorrida no município de Vila Boa no passado recente. “Lá, a transformação no quadro de referência foi capaz de diluir a força política de grupos locais. No Sudoeste, isso vai depender da habilidade de cada um. O político que souber trabalhar esse fator certamente levará vantagem”, observa. A mudança de referência do eleitor, na opinião dele, pode levar muitos políticos a perderem o foco na busca pela conquista ou manutenção do poder nos municípios.
O estudioso social examina o fato com a lupa da família e entende que a tendência é de que a postura política do novo eleitorado se torne mais clara e consolidada com o advento da segunda geração de emigrantes. Segundo ele, pesquisas demonstram que, geralmente, os trabalhadores que encontram, em uma nova região, condições de vida melhores do que em sua origem, tendem, em princípio, para a acomodação. “É mais provável que os filhos dos emigrantes sejam mais inconformados e adotem posições esquerdistas”, estabelece. Campos alerta que, por outro lado, o crescimento do número de eleitores pode não ocorrer isolado de aumento da quantidade de candidatos recém-chegados a esses municípios. “Isso não deixa de abrir a porta para oportunistas. Da mesma forma, ainda é cedo para decretar o fim dos chamados ‘currais eleitorais’ e saber que ameaça isso pode significar para os grupos políticos tradicionais ou se irá gerar mudanças de orientação na sociedade”, contrapõe.
Conforme Elton Chacarosque, analista jurídico da 30ª Zona Eleitoral de Rio Verde, muitos deixam para a última hora a regularização e a transferência de seus domicílios eleitorais, o que gera transtornos para o Tribunal Regional Eleitoral (TRE). “O prazo final para a transferência é no dia 7 de maio. Portanto, para evitar novos tumultos, o melhor é que os interessados procurem o órgão o quanto antes”, anuncia.
Questão de cidadania
Vendedor de motos em uma concessionária de Rio Verde, o paulistano Wagner Barreto Neves, 26, é um dos novos rostos que devem comparecer às urnas no município este ano. Estabelecido na cidade há quase quatro anos, ele trocou o desemprego que amargava no maior centro industrial do País pelas novas oportunidades geradas pela agroindústria em Goiás. Agora, defende que a contribuição do trabalho de emigrantes como ele para a economia local credencia o direito a opinar sobre os destinos da cidade. “Estou vendo os problemas e me sinto na tarefa de participar. Para isso, quero usar o maior instrumento político existente, que é o voto”, impõe-se. “É como em um jogo, onde quem está de fora acaba percebendo coisas que os outros não enxergam”, compara.
Para Silvanez Alves dos Santos, 28, vigia de uma empresa de segurança em Rio Verde, a transferência do título para o novo domicílio demonstra também a confiança de criar raízes na cidade. Natural de Currais Novos, no Rio Grande do Norte, ele chegou ao município em 2006 e já providencia a atualização na Justiça Eleitoral. “Pretendo cursar uma faculdade aqui e o título eleitoral devidamente regularizado é uma das exigências. Além disso, acredito que isso mostra para a empresa a perspectiva de continuar no trabalho”, relata. Ele explica que a sua meta é conclamar os familiares do Nordeste a percorrerem a mesma trajetória em busca de crescimento profissional.
segunda-feira, 24 de março de 2008
Transformação do eleitorado desafia candidaturas no Sudoeste
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Câmara de Jataí tem novo presidente
Governistas conseguiram esvaziar chapa concorrente e eleger o pepista João Wesley de Moura para o comando do Legislativo em 2008
Fernando Machado
No último dia 18, a chapa encabeçada pelo vereador João Wesley Cabral de Moura (PP) saiu vencedora da disputa pela presidência da Mesa Diretora da Câmara Municipal de Jataí. O êxito do pepista, que obteve o voto de oito dos 10 parlamentares, só foi possível graças a uma manobra política articulada pelo grupo do prefeito Fernando Henrique Peres (PR), que conseguiu esvaziar a chapa concorrente, liderada por Ediglan Maia (PSDB). Os dois votos contrários foram dos peemedebistas Gênio Eurípedes e Geovaci Peres. Minutos antes do prazo final para o registro de chapas, no dia 16, o vereador de oposição Adilson de Carvalho (PMDB) solicitou à Secretaria da Casa a desconsideração de sua assinatura na chapa do tucano para se inscrever como 1º vice-presidente no grupo liderado por Moura. Dessa forma, a chapa comandada por Maia ficou sem o número mínimo de cinco integrantes para pleitear a presidência do Legislativo. Faltando cerca de cinco minutos para o prazo de encerramento, Moura protocolou sua chapa, composta ainda por André Pires (PR), 2º vice-presidente; Abimael Souza Silva (PR), 1º secretário e Maria José da Silva (PTB), 2ª secretária.
O retorno de Moura para a presidência da Casa que ele presidira em 2006 coloca fim ao imbróglio que se arrastava no Legislativo desde 22 de fevereiro, quando o juiz da 2ª Vara Cível da Comarca de Jataí, João César Guaspari Papaléu, determinou a anulação da eleição para a Mesa Diretora para o exercício de 2008, destituindo Maia do cargo máximo do parlamento jataiense e exigindo a convocação de novo pleito. O tucano manteve seu grupo unido e, mais uma vez, venceu a disputa. No entanto, menos de uma semana depois o juiz novamente anulou a eleição, fazendo com que o líder do governo na Casa, Alcides Fazzolino (PTB), vereador mais idoso de Jataí, assumisse interinamente a presidência, conforme reza o Estatuto.
No curto período em que esteve à frente da Mesa Diretora, o petebista cancelou as principais medidas tomadas por Maia, como o reajuste salarial de 150% de todos os servidores da Casa, e ainda demitiu todos os ocupantes de cargos comissionados no Legislativo. Além disso, apresentou relatório acusando o ex-presidente de ter superfaturado serviços, malversação de dinheiro público e emissão de notas frias. No documento apresentado no Plenário por Fazzolino, Maia é incriminado de ter gasto nos dois primeiros meses de 2008 R$ 5 mil em festas e R$ 3,6 mil em compra de perfumes. Indignado, Maia acusou o colega de deslumbramento com o poder e negou todas as acusações.
O novo presidente da Câmara, que integra a bancada de oposição à administração municipal, assumiu a função pregando independência e sinalizando uma postura menos agressiva em relação ao Executivo. “Eu jamais serei contrário a alguém porque politicamente o grupo me força a ser. Vou ser um presidente pluripartidário”, disse em sua posse. Nesta semana, Moura deverá se reunir com o restante dos vereadores para avaliar se mantém ou não as medidas e os projetos criados por Maia, como o “Câmara Itinerante”, cujo calendário de sessões ordinárias nos bairros já estava programado, assim como a longa lista de demissões e o reajuste salarial dos servidores. “Essas decisões serão tomadas de acordo com a vontade da maioria”, resume. Ao mesmo tempo, ele promete tomar conhecimento da situação financeira da Casa. Moura afirmou que evitará ao máximo que os parlamentares utilizem o Plenário para fazer campanha política. Mesmo obtendo o voto favorável de Maia, ele interrompeu um discurso inflamado de críticas do tucano dirigidas ao prefeito Fernando Henrique Peres e pediu que ele se restringisse aos assuntos parlamentares. “O importante agora é reverter a imagem da Câmara, que ficou muito desgastada com os desmandos e irregularidades ocorridos no início de 2008. Quero unir todos os pares em prol dessa causa”, declarou.
Análise
Oposição sai abalada
Caracterizada por uma postura áspera e contundente em relação à administração do prefeito Fernando Henrique Peres (PR) a bancada oposicionista da Câmara Municipal de Jataí sofreu abalos estruturais com a vitória de João Wesley Cabral de Moura (PP) para a presidência do Legislativo. Primeiro porque o pepista, que sempre se manteve claramente na trincheira adversária ao primeiro mandato de Peres, assume o comando do Legislativo com uma postura mais amena em relação ao Executivo. Segundo, pelo fato de Ediglan Maia (PSDB), notadamente o oposicionista mais aguerrido, não poder mais usufruir da presidência da Casa para vociferar seus ataques contra Peres. E terceiro, e mais grave, porque os principais aliados do prefeito, como o ex-líder de governo André Pires (PR) e agora 2º secretário, foram reconduzidos para a Mesa Diretora graças ao apoio estratégico de um peemedebista.
Presidido no município pelo deputado federal Leandro Vilela, o diretório do PMDB não conseguiu evitar o desmantelamento de sua bancada e estuda agora como lidar com a rebeldia de Adilson Carvalho, que não seguiu as orientações da legenda. A posição dúbia de Carvalho ainda coloca em xeque a liderança do ex-prefeito Humberto Machado (PMDB), provável adversário de Peres na eleição majoritária de outubro. Nesse novo cenário, a oposição corre o risco de perder a maioria na Casa e passa a ser composta, na prática, somente pelos vereadores tucanos Ediglan Maia e Soraia Rodrigues e os peemedebistas Geovaci Peres e Gênio Eurípedes. Nesta semana, o diretório municipal do PMDB se reunirá para decidir se Carvalho será ou não expulso do partido. (F.M.)
sexta-feira, 7 de março de 2008
Coluna Palanque 07/03/2008
Ao melhor estilo Iris Rezende, o prefeito de Quirinópolis, Gilmar Alves (PMDB), reuniu mais de 20 mil pessoas na festa de aniversário, no dia 2, quando comemorou 50 anos de vida.
Fartura
A festa de aniversário foi mais do que farta. Foram 15 mil latas de cerveja, 50 bois, 15 carneiros, 15 porcos, 115 galinhas, 5 mil pamonhas. Entre as autoridades peemedebistas presentes estavam os deputados estaduais Paulo Cezar Martins e Samuel Belchior. Presidente da Juntude do PMDB, Cristian Gomes também levou seu abraço ao amigo.
Sucessão
A prefeita de Santa Helena e primeira-dama do Estado, Raquel Rodrigues (PP) confirmou a esta coluna que pode mesmo ficar de fora da sucessão municipal. Segundo ela, tem sido muito difícil conciliar os compromissos à frente da OVG e ainda cuidar da administração de Santa Helena. Ela também confirmou que Carlos Silva (PP) tem a sua preferência. Ele foi diretor da Saneago e vereador por duas vezes.
Acesso
Os deficientes físicos de Rio Verde reclamam do acesso ao Restaurante Cidadão, inaugurado com grande alarde há poucos dias. Para entrar no prédio, eles têm de utilizar a rampa do Vapt-Vupt, localizada na Avenida Presidente Vargas.
Recado
A direção da Associação dos Deficientes Físicos de Rio Verde (Adefirv) avisa que 35 empregos estão disponíveis para deficientes em diversas empresas do município.
Virou novela
Pela segunda vez, a Justiça afastou Ediglan Maia (PSDB) da presidência da Câmara de Jataí. O juiz João César Papaléu determinou a saída imediata do tucano, sob pena do uso de força policial. Segundo o magistrado, o vereador mais idoso - e não Maia - deveria ter ocupado a cadeira máxima do Legislativo durante o período anterior à realização da segunda eleição da Mesa Diretora, ocorrida no último dia 29 de fevereiro deste ano.
Mais velho
Atendendo a decisão judicial, o líder do governo e parlamentar mais idoso da Casa, Alcides Fazzolino (PTB) assumiu a presidência no dia 5. Ele ainda terá de definir a data para a nova eleição.
Segurança
Ernesto Roller, secretário de Segurança do Estado, atendeu o chamado do prefeito Fernando Henrique Peres (PR) e visitou Jataí. Peres reforçou o pedido de vetar a regionalização do Centro de Internação de Adolescentes de Jataí. Além disso, o prefeito conseguiu a garantia de imediato a vinda de cinco servidores, uma viatura e a reforma e ampliação do prédio do IML.
Energia solar
A instalação de coletor solar no Conjunto Mauro Bento tem reduzido em até 50% o valor das contas de energia. O aparelho foi instalado graças a uma parceria entre a prefeitura e a Celg. “É um benefício muito grande para a população e que nos enche de orgulho. Com a economia gerada, os moradores podem comprar mais comida e mais utensílios para o seu cotidiano”, salientou o republicano.
O “x” da questão
O secretário estadual de Agricultura, Leonardo Veloso do Prado (PP), disse que a sua maior preocupação no momento é encontrar um nome de Rio Verde para substituí-lo no comando da pasta, caso deixe o cargo para concorrer à Prefeitura de Rio Verde. “Antes de qualquer coisa, precisamos resolver essa questão”, respondeu.
Buraco é mais embaixo
Presidente do diretório do Democratas de Rio Verde, o médico Juraci Martins foi convidado pelo vice-presidente da Comigo para compor chapa de oposição ao presidente Antonio Chavaglia.
“Meu plano não é mais a Comigo, mas a Prefeitura de Rio Verde”, respondeu o pré-candidato em uma chapa provavelmente aliada ao PSDB do deputado estadual Padre Ferreira.
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Entrevista com Antônio Chavaglia: “Tenho mais capacidade para administrar”
Qual foi o fator predominante que impediu que o sr. e o seu vice-presidente Álvaro Henkes não formassem novamente uma chapa de consenso?
É sempre bom começar por partes. No dia 22 de janeiro, o Álvaro me comunicou que não iria mais trabalhar comigo e que, a partir daí, iria formar uma chapa. Eu não perguntei o motivo. Acho que cada associado tem o direito de pleitear um cargo. Acontece que, 30 dias depois disso, no dia 21 de fevereiro, eu estava saindo de uma reunião em Brasília, com o ministro da Agricultura, quando ele me liga e pede para voltar para a minha chapa, querendo que eu o aceitasse de volta. Quer dizer: uma hora não dá mais pra trabalhar comigo; depois já daria novamente. A coisa ficou meio truncada. Fico por entender. Tem alguma coisa muito confusa com ele, não acha?
E o quê o sr respondeu?
Eu respondi que o processo já estava em andamento e que eu, como ele também, já havia convidado outras pessoas para compor a chapa. Depois de tudo que ele havia me dito e do tempo que havia passado, achei que não valeria mais a pena retroceder. Formamos uma chapa e estamos trabalhando para realmente ter sucesso nas eleições. Eu realmente fiquei por entender quando ele, depois de 12 anos trabalhando junto comigo, chega e coloca que não dá mais e sem dizer onde estava essa incompatibilidade que ele andou falando. Para mim, até aquele momento tudo estava dentro do normal. Eu já tenho 22 anos à frente da Cooperativa, sou sócio fundador e tenho um respeito muito grande pela comigo e pelos associados. Isto me dá condições a pleitear a reeleição. Mais do que ninguém, eu tenho condições para exercer uma nova gestão. Graças a Deus, como presidente eu conduzo a Cooperativa eu conduzo as diretrizes e depois divido as funções. No caso dele, a função era cuidar da parte dos armazéns, lojas e a parte de leite. Ele conduzia e traçava a política de leite, naturalmente me passando as informações. Nós somos três diretores e cada um arca com uma função e com suas responsabilidades. Agora, tem aparecido muitas conversas distorcendo a realidade e o trabalho que fazemos juntos. Eu fico decepcionado com essas colocações de que o trabalho não foi feito em comum. Afinal, foram 12 anos trabalhando juntos. Ou seja, demorou tanto tempo assim para ele achar que existe divergência entre nós? É necessário ter mais cuidado porque estamos administrando uma empresa que não pertence somente a nós, mas também a quase quatro mil cooperados, a quem devemos satisfação e prestação exemplar de serviços. Não é porque chegou a época da eleição que as coisas devem ser distorcidas. Ele tem de aprender a respeitar o papel importante que a empresa tem não só em Rio Verde, mas em todo o Estado. Temos de conduzir as coisas de forma coerente e respeitar as pessoas. As decisões sempre foram divididas, depois passadas para a análise do conselho e, então, as funções eram distribuídas.
Na composição da nova chapa, o sr. tomou cuidado para evitar que isso ocorra no futuro? Quais foram os critérios para a composição desse novo grupo?
Veja bem, quando você chama uma pessoa para participar de um processo contínuo e trabalha 12 anos com ela, você pensa que de uma hora para outra ela vai mudar o pensamento? Até o dia 22 de janeiro estava tudo normal. Faltando 50 dias para as eleições, ele levou essa intenção para o conselho. Aí cada um colocou a sua posição. A atitude dele surpreendeu e causou preocupação aos conselheiros, que ficaram divididos no início, mas a maioria me acompanhou. O conselho fiscal ficou dividido. Escolhi para a nova chapa pessoas experientes, como John Lee Ferguson, que foi vice-presidente por oito anos. São colaboradores que podem contribuir muito para que façamos um trabalho responsável e aperfeiçoando a cada dia. O aprendizado é constante e diário. A pessoa que acha que sabe tudo fica estagnada na administração. Todos os dias os associados colocam sugestões e existe uma ampla discussão em conjunto. Não tem como administrar bem a Comigo se o associado não participar. Ela só vai bem se o associado acreditar na diretoria. Graças a Deus, durante todos esses anos sempre tive essa coerência. Longe de mim achar que sou perfeito. Erros acontecem, mas temos acertado mais do que errado. Por isso a Comigo está onde está e espero que as coisas continuem assim.
A Comigo é a maior cooperativa do Estado. Ela possui representatividade compatível com seu porte na FAEG, as Secretaria Estadual de Agricultura e outros órgãos?
A Cooperativa é uma empresa. Quem tem representação nesses órgãos é a Organização das Cooperativas do Brasil, seção Goiás (OCB-GO), que é o órgão máximo do cooperativismo em Goiás e do qual eu sou o presidente. Então, tudo o que é discutido no setor para reivindicar do governo estadual ou federal eu participo. Tenho meus conselheiros que participam em diversos órgãos do setor, representando a OCB. Não é de hoje que eu faço a defesa do sistema agrícola através dessas entidades ou mesmo nos movimentos que ocorrem e eu participo. Estou constantemente participando das discussões como um todo.
O seu adversário diz que quer ser apenas presidente da Comigo, e não acumular outros cargos como a presidência da OCB ou da Credirural. O que o sr entende dessa declaração? É preciso ter exclusividade para administrar melhor?
Vou ser bem sincero com você. Eu acho que esse negócio de querer ser presidente disso ou daquilo, na verdade a pessoa participa daquilo que ela tem capacidade de fazer. Eu, graças a Deus, tenho tido a capacidade de administrar muito bem a Comigo, a OCB e a Credirural. Tenho meu conselho dentro da OCB, em que cada um cumpre seu papel. Você não administra tudo isso sem delegar funções. Eu tenho essa capacidade de delegar poderes para os vice-presidentes e conselheiros de todas essas entidades para que possamos trabalhar em conjunto. Então, nada disso atrapalha a administração da Comigo. Tenho o dinamismo e a capacidade estratégica que me permitem fazer tudo isso. Então, isso depende da capacidade de cada um. E digo mais: eu me considero co maior capacidade do que meu adversário para administrar a Comigo. Conheço tudo aqui dentro. Sou sócio fundador, participei duas vezes como vice-presidente e faz 22 anos que estou aqui onde você está me vendo. Isso me credencia conhecimentos e credibilidade não só com o produtor, mas também com os fornecedores. Tenho relacionamento tanto em nível estadual como federal. Tenho um relacionamento com o sistema financeiro que me credencia a dizer que tenho crédito com todas essas pessoas. Por isso é preciso tanto cuidado na hora de fazer declarações como essa que foi feita, uma vez que a Cooperativa só está onde está porque houve coerência. Também tenho a capacidade de diferenciar o que é política empresarial e o que é política pública. A Comigo é uma empresa privada. Em Goiás e pelo Brasil a fora, temos visto casos de cooperativas que já existiam quando a Comigo nasceu e que, hoje, estão de portas fechadas. Nós estamos aqui. Passamos por inúmeros momentos de dificuldade na agricultura e sempre ficamos do lado do produtor, apoiando e fazendo o possível para contribuir. Se não tivéssemos tido capacidade administrativa e consenso, jamais teríamos chegado onde estamos. Defendo os direitos do produtor há muitos anos, até porque eu também sou um produtor rural e vivo disso.
Qual é a sua atividade no campo?
Sou produtor somente em Goiás há 40 anos, produzo soja, milho sorgo, arroz, grãos em geral, e um pouquinho de pecuária. Tenho condições de falar que sou capaz de continuar realizando um trabalho aqui com muita responsabilidade e com muita seriedade, preservando a cooperativa em todos os sentidos e, principalmente, prestando serviço de acordo com as necessidades do associado.
Faz parte das suas metas aumentar o faturamento da Comigo, que no ano passado foi de R$ 800 milhões?
Eu considero extremamente oportuno que você tenha perguntado isso, já que é uma questão fundamental para a qualidade do serviço prestado pela Comigo. Nós temos um planejamento que realizamos para 2007 e 2008, feito com um consultor externo. A nossa previsão de faturamento para 2008 é passar de R$ 1 bilhão. Ela tem que crescer, tem que evoluir pra continuar prestando serviço. As despesas não param. Nós crescemos 4% ou 5% ao ano, se o faturamento não crescer acima disso você não paga as despesas, você não gera resultados. O objetivo da cooperativa não é retirar do produtor, mas sim devolver a ele em forma de prestação de serviços e comercialização dos seus produtos. Então, nosso faturamento é crescente. Foi de R$ 800 milhões no ano passado e deve ultrapassar R$ 1 bilhão este ano.
Isso poderá ser sentido pelo pequeno produtor?
Claro que sim. Eles participam em todos os sentidos da Cooperativa e vão crescendo de acordo com as necessidades, tenham eles dois ou três equitares. Fizemos um trabalho fantástico com os produtores de leite, com o Mais Leite. Tudo isso é trabalhado. Temos equipes de agrônomos e veterinários que dão assistência a eles.
Que lição o sr tira das batalhas travadas em eleições anteriores?
As eleições passadas correram dentro da normalidade. Espero que dessa vez seja da mesma maneira. O desempenho da empresa não pode ser afetado por problemas pessoais.
Há mais de 20 anos no comando da Comigo, é possível fazer uma auto-crítica. Quais são os pontos em que a Cooperativa precisa se desenvolver mais?
Todos os projetos que idealizamos e discutimos com o associado tanto na área de grãos como na área industrial foram se realizando. Fizemos inúmeros armazéns, fizemos indústrias novas, o laticínio foi feito na minha gestão. A Centro Leite, que é uma associação que congrega todas as cooperativas de leite de Goiás, fui eu que fundei e fui seu primeiro presidente. Depois que já estava andando eu passei para outra pessoa. Ela faz um trabalho importante. Não conseguimos montar uma indústria de leite, porque as cooperativas não tiveram consenso e garantia suficientes pra isso. Passamos a discutir aqui dentro da comigo a possibilidade de viabilidade econômica desse tipo de indústria para os produtores dessa área. Para dar um equilíbrio a eles. É importante saber que a diretoria não apresenta nada se não tiver acontecido um estudo preliminar de viabilidade para depois passar para o associado e então executar a ação.
Quais são os apoios mais importantes que o sr já conseguiu para a sua chapa?
Eu tenho apoio dos produtores. Os sindicatos têm a sua autonomia, são órgãos muito importantes, mas eu divido muito bem as duas coisas. Tem pessoas do meu lado e outras do lado do meu adversário. Os sindicatos rurais não podem apoiar formalmente ninguém. O presidente do sindicato de Jataí disse que apoiava o Álvaro em uma rádio. O conselho se reuniu e depois me ligou dizendo que me apoiava. Sindicato é fundamental para categoria. Eu divido muito bem uma coisa da outra e gostaria que as pessoas também o fizessem.
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Entrevista com Álvaro Henkes: "Estão acomodados no poder"
O que levou o senhor a ingressar na disputa pela presidência da Comigo?
Em primeiro lugar é porque sempre conversei muito com os cooperados e tenho um trabalho de 12 anos em prol da classe. Diante disso, tenho percebido uma grande vontade de mudança na presidência da Cooperativa. Senti também que o meu nome alimentava o desejo de alternância. Como eu não podia mais me fazer de surdo aos pedidos, resolvi então lançar a minha candidatura ao cargo. Assim, propus uma candidatura de consenso aos conselhos de administração e fiscal. Até mesmo para que não houvesse o desgaste de uma disputa. Mas o atual presidente não aceitou e também decidiu abrir outra chapa. O sistema é democrático e é isso mesmo: o estatuto prevê a realização de eleições. Ninguém pode reclamar disto. Quero mostrar aos produtores o meu potencial, uma coisa que eu não pude exercer pelo fato de outros administradores pensarem diferentemente de mim. Chegou a vez de demonstrar e expor o sistema que eu considero correto, em que eu quero trabalhar. Prego uma cooperativa mais sólida. Dessa forma unicamente se pode prestar um serviço de excelência aos cooperados, com plena assistência técnica, serviço social e aperfeiçoamento das propriedades rurais. Estou apresentando um modelo mais moderno, que jamais colocaria em risco a estabilidade da Comigo. Algo que os cooperados aguardam há muitos anos.
Caso seja eleito, o senhor arcará automaticamente com a exigência de ser coerente e dar ao seu vice a mesma liberdade da qual tanto reclama...
Disso você pode ter certeza absoluta. Sou da opinião de que, se a pessoa demonstra capacidade de trabalho, ela pode e deve assumir responsabilidades. Felizmente, isso a Comigo tem de sobra. Atualmente, existem muitas pessoas aptas a opinar e a decidir sobre os destinos da cooperativa. Independentemente disso, a Comigo terá um comitê de crédito e um decisório. Defendo que, se o produtor possui acesso ao crédito rotativo dentro da Comigo, ele terá crédito em qualquer lugar. É preciso que as soluções sejam mais rápidas e eficazes.
Maior cooperativa de Goiás e uma das maiores do País, a Comigo goza de representatividade compatível com o seu porte nas entidades do setor?
Sim, totalmente. A cooperativa tem participação direta e voz ativa não só em Goiás, mas em todo o País, como você disse. Sabedores disso, nós temos a intenção de dar mais credibilidade e consistência à marca nos quatro cantos do Brasil.
O senhor questiona e critica a falta de alternância no comando da Comigo. Por quê? Faturando próximo de R$ 1 bilhão por ano, a Cooperativa não vai bem? Quais são os pontos estratégicos e fundamentais para o crescimento que ainda merecem mais atenção e investimentos?
Eu vejo que a alternância no poder traz novas idéias e perspectivas. O processo é mais legítimo e democrático com a alternância. A permanência excessiva no poder leva a pessoa a se tornar possessiva. Para não falar um ditador. Sem sentir, ela se deixa levar pela crença de que é dona da verdade e, de uma forma totalmente isolada, para de respeitar os outros administradores. Eu acredito que a Comigo possui uma grande capacidade de crescimento na recepção de grãos. O produtor pode entregar mais e a cooperativa pode vender mais insumos. Devemos investir muito no refinamento de óleo, aumentando a refinaria e fazendo investimentos. Muitos armazéns também precisam de investimentos, com mais balanças e mais secadores.
No lançamento de sua candidatura, o sr. afirmou que a campanha se trata mais de uma guerra do que de uma batalha. Que lição é possível retirar dos pleitos passados?
É a minha segunda eleição dentro da Cooperativa. Sou vítima de calúnias na cidade. Foi por isso que eu disse que se trata de uma guerra, mas conto com uma assessoria jurídica e uma contábil bastante preparadas para enfrentar os problemas que surgiram na hora da eleição. Dentro da nossa proposta de trazer o produtor que saiu da Comigo de volta está manifestada o nosso esforço de aumentar o faturamento da Cooperativa. Se o produtor comprar mais insumos e máquinas agrícolas da Cooperativa, naturalmente todos sairão ganhando. Nossa maior preocupação é resgatar a credibilidade junto ao produtor rural da região. Eu não tenho propriedade fora de Rio Verde ou, muito menos, fora de Goiás. Eu sou um produtor de grãos. Eu quero me dedicar exclusivamente à Comigo, ou seja, não quero ser presidente da OCB (Organização das Cooperativas do Brasil- GO), do Credi Rural ou qualquer outra entidade do setor.
E a que se deve a preocupação de preencher a chapa com integrantes de outra região, e não somente de Rio Verde? O que tudo isto pode agregar ao grupo?
Bem, como eu sou totalmente contra a permanência no poder por muito tempo e por considerar que é justa a alternância, não faz diferença a origem do presidente. O atual presidente veio de uma cidade do interior de São Paulo. Por que uma pessoa de Jataí não pode presidir a entidade? Acho que, tendo competência e responsabilidade e, ao mesmo tempo, residindo em Rio Verde , o cooperado deve se manifestar. Tenho uma proposta para os pequenos produtores, intensificando a área de leite e fazendo reformas e transformações necessárias para o desenvolvimento do laticínio em Rio Verde. Tenho um projeto para a construção de um frigorífico de peixes, que será muito útil aos pequenos. Diante disso, vamos buscar recursos do FCO para poder financiar a longo prazo.
Em pleno ano eleitoral, qual é a influência que o pleito da Comigo representa para as eleições municipais?
Nenhuma. Pelo menos da minha parte, faremos política cooperativista e totalmente apartidária. Não vamos permitir interferência de partidos políticos nos destinos da Comigo. Nós temos que usar os políticos para trazer benefícios para a cooperativa, mas sem deixar que eles usem a cooperativa em benefício próprio.
O apoio do prefeito Paulo Roberto Cunha, que é um dos fundadores da Comigo, pode ser um divisor de águas na disputa cooperativista?
Eu não rejeito o apoio dele, assim como não rejeito o apoio de ninguém. Estou pedindo o voto e o apoio de 100% dos cooperados. Não me importa se o cooperado é prefeito, deputado, vereador ou o que quer que seja. Estou procurando o apoio e o voto de todos.
A cooperativa é muito criticada por atender os interesses dos grandes em detrimento dos pequenos produtores. Qual é a sua proposta para eles?
Nós temos uma política bem definida para os pequenos produtores. Vamos intensificar a área de leite, fazendo as reformas e as transformações necessárias para o laticínio em Rio Verde. Temos também o projeto de um frigorífico de peixes, que será muito útil para os pequenos produtores. Diante disso, iremos buscar recursos do FCO para que os financiamentos possam ser feitos a longo prazo.
O sr disse que tem vergonha da comercialização de milho feita hoje pela Comigo. Onde está o problema?
Bem, eu não sei onde está o problema porque não é da minha área. Não era eu quem fazia essa comercialização, mas todas as empresas de Rio Verde comercializam normalmente. Daqui para frente, a Comigo também vai ter de fazer o mesmo.
Qual é a sua proposta para os produtores de cana-de-açúcar?
Esta é uma questão muito difícil. A Comigo trabalha só com insumos para o plantio de cana, mas não tem intenção de construir usina. A política atual para o setor é complicada porque o raio de captação da cana da usina gira em torno de 20km a 30km. Então, a Comigo teria de montar muitas usinas para que atendesse todos os produtores. É por isso que não existe a intenção de montagem de usina, mas vamos fornecer assistência técnica, adubos e insumos para os produtores cooperados.
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