sexta-feira, 7 de março de 2008

Entrevista com Antônio Chavaglia: “Tenho mais capacidade para administrar”


Candidato à reeleição, o presidente da Comigo, Antonio Chavaglia, responde as críticas de seu adversário e se diz decepcionado com a postura do seu vice-presidente. Segundo ele, a acumulação de cargos em outras entidades, como a Organização das Cooperativas do Brasil, seção Goiás (OCB-GO) ao invés de atrapalhar, somente beneficia e torna a Cooperativa ainda melhor representada nos órgãos do setor ruralista. “As pessoas são chamadas para os cargos de acordo com a capacidade que possuem”, alfineta. Chavaglia disse, na entrevista concedida em seu gabinete, que o sucesso da Comigo se deve à coerência administrativa exercida ao longo das duas últimas décadas.

Qual foi o fator predominante que impediu que o sr. e o seu vice-presidente Álvaro Henkes não formassem novamente uma chapa de consenso?
É sempre bom começar por partes. No dia 22 de janeiro, o Álvaro me comunicou que não iria mais trabalhar comigo e que, a partir daí, iria formar uma chapa. Eu não perguntei o motivo. Acho que cada associado tem o direito de pleitear um cargo. Acontece que, 30 dias depois disso, no dia 21 de fevereiro, eu estava saindo de uma reunião em Brasília, com o ministro da Agricultura, quando ele me liga e pede para voltar para a minha chapa, querendo que eu o aceitasse de volta. Quer dizer: uma hora não dá mais pra trabalhar comigo; depois já daria novamente. A coisa ficou meio truncada. Fico por entender. Tem alguma coisa muito confusa com ele, não acha?

E o quê o sr respondeu?
Eu respondi que o processo já estava em andamento e que eu, como ele também, já havia convidado outras pessoas para compor a chapa. Depois de tudo que ele havia me dito e do tempo que havia passado, achei que não valeria mais a pena retroceder. Formamos uma chapa e estamos trabalhando para realmente ter sucesso nas eleições. Eu realmente fiquei por entender quando ele, depois de 12 anos trabalhando junto comigo, chega e coloca que não dá mais e sem dizer onde estava essa incompatibilidade que ele andou falando. Para mim, até aquele momento tudo estava dentro do normal. Eu já tenho 22 anos à frente da Cooperativa, sou sócio fundador e tenho um respeito muito grande pela comigo e pelos associados. Isto me dá condições a pleitear a reeleição. Mais do que ninguém, eu tenho condições para exercer uma nova gestão. Graças a Deus, como presidente eu conduzo a Cooperativa eu conduzo as diretrizes e depois divido as funções. No caso dele, a função era cuidar da parte dos armazéns, lojas e a parte de leite. Ele conduzia e traçava a política de leite, naturalmente me passando as informações. Nós somos três diretores e cada um arca com uma função e com suas responsabilidades. Agora, tem aparecido muitas conversas distorcendo a realidade e o trabalho que fazemos juntos. Eu fico decepcionado com essas colocações de que o trabalho não foi feito em comum. Afinal, foram 12 anos trabalhando juntos. Ou seja, demorou tanto tempo assim para ele achar que existe divergência entre nós? É necessário ter mais cuidado porque estamos administrando uma empresa que não pertence somente a nós, mas também a quase quatro mil cooperados, a quem devemos satisfação e prestação exemplar de serviços. Não é porque chegou a época da eleição que as coisas devem ser distorcidas. Ele tem de aprender a respeitar o papel importante que a empresa tem não só em Rio Verde, mas em todo o Estado. Temos de conduzir as coisas de forma coerente e respeitar as pessoas. As decisões sempre foram divididas, depois passadas para a análise do conselho e, então, as funções eram distribuídas.

Na composição da nova chapa, o sr. tomou cuidado para evitar que isso ocorra no futuro? Quais foram os critérios para a composição desse novo grupo?
Veja bem, quando você chama uma pessoa para participar de um processo contínuo e trabalha 12 anos com ela, você pensa que de uma hora para outra ela vai mudar o pensamento? Até o dia 22 de janeiro estava tudo normal. Faltando 50 dias para as eleições, ele levou essa intenção para o conselho. Aí cada um colocou a sua posição. A atitude dele surpreendeu e causou preocupação aos conselheiros, que ficaram divididos no início, mas a maioria me acompanhou. O conselho fiscal ficou dividido. Escolhi para a nova chapa pessoas experientes, como John Lee Ferguson, que foi vice-presidente por oito anos. São colaboradores que podem contribuir muito para que façamos um trabalho responsável e aperfeiçoando a cada dia. O aprendizado é constante e diário. A pessoa que acha que sabe tudo fica estagnada na administração. Todos os dias os associados colocam sugestões e existe uma ampla discussão em conjunto. Não tem como administrar bem a Comigo se o associado não participar. Ela só vai bem se o associado acreditar na diretoria. Graças a Deus, durante todos esses anos sempre tive essa coerência. Longe de mim achar que sou perfeito. Erros acontecem, mas temos acertado mais do que errado. Por isso a Comigo está onde está e espero que as coisas continuem assim.

A Comigo é a maior cooperativa do Estado. Ela possui representatividade compatível com seu porte na FAEG, as Secretaria Estadual de Agricultura e outros órgãos?
A Cooperativa é uma empresa. Quem tem representação nesses órgãos é a Organização das Cooperativas do Brasil, seção Goiás (OCB-GO), que é o órgão máximo do cooperativismo em Goiás e do qual eu sou o presidente. Então, tudo o que é discutido no setor para reivindicar do governo estadual ou federal eu participo. Tenho meus conselheiros que participam em diversos órgãos do setor, representando a OCB. Não é de hoje que eu faço a defesa do sistema agrícola através dessas entidades ou mesmo nos movimentos que ocorrem e eu participo. Estou constantemente participando das discussões como um todo.

O seu adversário diz que quer ser apenas presidente da Comigo, e não acumular outros cargos como a presidência da OCB ou da Credirural. O que o sr entende dessa declaração? É preciso ter exclusividade para administrar melhor?
Vou ser bem sincero com você. Eu acho que esse negócio de querer ser presidente disso ou daquilo, na verdade a pessoa participa daquilo que ela tem capacidade de fazer. Eu, graças a Deus, tenho tido a capacidade de administrar muito bem a Comigo, a OCB e a Credirural. Tenho meu conselho dentro da OCB, em que cada um cumpre seu papel. Você não administra tudo isso sem delegar funções. Eu tenho essa capacidade de delegar poderes para os vice-presidentes e conselheiros de todas essas entidades para que possamos trabalhar em conjunto. Então, nada disso atrapalha a administração da Comigo. Tenho o dinamismo e a capacidade estratégica que me permitem fazer tudo isso. Então, isso depende da capacidade de cada um. E digo mais: eu me considero co maior capacidade do que meu adversário para administrar a Comigo. Conheço tudo aqui dentro. Sou sócio fundador, participei duas vezes como vice-presidente e faz 22 anos que estou aqui onde você está me vendo. Isso me credencia conhecimentos e credibilidade não só com o produtor, mas também com os fornecedores. Tenho relacionamento tanto em nível estadual como federal. Tenho um relacionamento com o sistema financeiro que me credencia a dizer que tenho crédito com todas essas pessoas. Por isso é preciso tanto cuidado na hora de fazer declarações como essa que foi feita, uma vez que a Cooperativa só está onde está porque houve coerência. Também tenho a capacidade de diferenciar o que é política empresarial e o que é política pública. A Comigo é uma empresa privada. Em Goiás e pelo Brasil a fora, temos visto casos de cooperativas que já existiam quando a Comigo nasceu e que, hoje, estão de portas fechadas. Nós estamos aqui. Passamos por inúmeros momentos de dificuldade na agricultura e sempre ficamos do lado do produtor, apoiando e fazendo o possível para contribuir. Se não tivéssemos tido capacidade administrativa e consenso, jamais teríamos chegado onde estamos. Defendo os direitos do produtor há muitos anos, até porque eu também sou um produtor rural e vivo disso.

Qual é a sua atividade no campo?
Sou produtor somente em Goiás há 40 anos, produzo soja, milho sorgo, arroz, grãos em geral, e um pouquinho de pecuária. Tenho condições de falar que sou capaz de continuar realizando um trabalho aqui com muita responsabilidade e com muita seriedade, preservando a cooperativa em todos os sentidos e, principalmente, prestando serviço de acordo com as necessidades do associado.

Faz parte das suas metas aumentar o faturamento da Comigo, que no ano passado foi de R$ 800 milhões?
Eu considero extremamente oportuno que você tenha perguntado isso, já que é uma questão fundamental para a qualidade do serviço prestado pela Comigo. Nós temos um planejamento que realizamos para 2007 e 2008, feito com um consultor externo. A nossa previsão de faturamento para 2008 é passar de R$ 1 bilhão. Ela tem que crescer, tem que evoluir pra continuar prestando serviço. As despesas não param. Nós crescemos 4% ou 5% ao ano, se o faturamento não crescer acima disso você não paga as despesas, você não gera resultados. O objetivo da cooperativa não é retirar do produtor, mas sim devolver a ele em forma de prestação de serviços e comercialização dos seus produtos. Então, nosso faturamento é crescente. Foi de R$ 800 milhões no ano passado e deve ultrapassar R$ 1 bilhão este ano.

Isso poderá ser sentido pelo pequeno produtor?
Claro que sim. Eles participam em todos os sentidos da Cooperativa e vão crescendo de acordo com as necessidades, tenham eles dois ou três equitares. Fizemos um trabalho fantástico com os produtores de leite, com o Mais Leite. Tudo isso é trabalhado. Temos equipes de agrônomos e veterinários que dão assistência a eles.

Que lição o sr tira das batalhas travadas em eleições anteriores?
As eleições passadas correram dentro da normalidade. Espero que dessa vez seja da mesma maneira. O desempenho da empresa não pode ser afetado por problemas pessoais.

Há mais de 20 anos no comando da Comigo, é possível fazer uma auto-crítica. Quais são os pontos em que a Cooperativa precisa se desenvolver mais?
Todos os projetos que idealizamos e discutimos com o associado tanto na área de grãos como na área industrial foram se realizando. Fizemos inúmeros armazéns, fizemos indústrias novas, o laticínio foi feito na minha gestão. A Centro Leite, que é uma associação que congrega todas as cooperativas de leite de Goiás, fui eu que fundei e fui seu primeiro presidente. Depois que já estava andando eu passei para outra pessoa. Ela faz um trabalho importante. Não conseguimos montar uma indústria de leite, porque as cooperativas não tiveram consenso e garantia suficientes pra isso. Passamos a discutir aqui dentro da comigo a possibilidade de viabilidade econômica desse tipo de indústria para os produtores dessa área. Para dar um equilíbrio a eles. É importante saber que a diretoria não apresenta nada se não tiver acontecido um estudo preliminar de viabilidade para depois passar para o associado e então executar a ação.

Quais são os apoios mais importantes que o sr já conseguiu para a sua chapa?
Eu tenho apoio dos produtores. Os sindicatos têm a sua autonomia, são órgãos muito importantes, mas eu divido muito bem as duas coisas. Tem pessoas do meu lado e outras do lado do meu adversário. Os sindicatos rurais não podem apoiar formalmente ninguém. O presidente do sindicato de Jataí disse que apoiava o Álvaro em uma rádio. O conselho se reuniu e depois me ligou dizendo que me apoiava. Sindicato é fundamental para categoria. Eu divido muito bem uma coisa da outra e gostaria que as pessoas também o fizessem.

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