segunda-feira, 24 de março de 2008

Transformação do eleitorado desafia candidaturas no Sudoeste

Compreensão das mudanças no perfil dos cidadãos aptos a votar deverá ser ponto-chave para quem almeja a vitória nas eleições municipais da região

Fernando Machado

Nas eleições que acontecem em outubro, os candidatos a prefeito e a vereador nos municípios do Sudoeste encontrarão um quadro modificado e bem mais complexo do que existia nos pleitos anteriores. Ao mesmo passo que acarretou intenso crescimento populacional, a industrialização da agricultura na região foi acompanhada de uma mudança proporcional no perfil do eleitorado nos últimos dez anos. Em Rio Verde, os interessados na chefia do Executivo e em um assento na Câmara Municipal toparão daqui a pouco mais de seis meses com um eleitorado 38% diferenciado daquele que existia há oito anos. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de habitantes aptos a votar subiu de 67 mil em 2000 para mais de 93 mil já prontos para ir às urnas este ano, aumento superior a um quarto do total.
Pólo econômico da região, Rio Verde não foi a única cidade a constatar metamorfoses no perfil do seu eleitorado graças à chegada de emigrantes. Em Mineiros, onde a zona eleitoral local registrou crescimento de mais de 25 % de 2000 para cá, a cara do eleitorado também mudou drasticamente. A instalação de multinacionais e a conseqüente chegada de trabalhadores de todo o País, especialmente das regiões Norte e Nordeste, fizeram com que o eleitorado crescesse outros 16 % de 2006 até hoje. A média de crescimento no Estado nos últimos oito anos foi de 5,32% e de 5,22 % na estatística nacional. O acréscimo eleitoral em Montividiu dentro do mesmo prazo foi de quase 6%. Em Quirinópolis, onde a oferta de empregos cresceu mais de 14 vezes nos últimos três anos, o eleitorado aumentou 4 % das eleições de 2006 para a atualidade. Em Jataí, a adição foi superior a 5%. Em Rio Verde, as duas zonas eleitorais registraram 8,5% a mais de eleitores das últimas disputas estaduais e federais.

“Muda a referência”
Cientista político e pró-reitor de uma universidade em Anápolis, Itami Campos entende que somente o tempo dirá se a transformação poderá ser benéfica ao processo de representação política, mas assegura que é um ponto-chave das disputas que serão travadas nos municípios do Sudoeste. “Não há como ignorar essa realidade no planejamento estratégico das campanhas. Um desafio que será decisivo para quem tiver inteligência para explorá-lo.” Ele compara a mudança de perfil dos eleitores da região com a ocorrida no município de Vila Boa no passado recente. “Lá, a transformação no quadro de referência foi capaz de diluir a força política de grupos locais. No Sudoeste, isso vai depender da habilidade de cada um. O político que souber trabalhar esse fator certamente levará vantagem”, observa. A mudança de referência do eleitor, na opinião dele, pode levar muitos políticos a perderem o foco na busca pela conquista ou manutenção do poder nos municípios.
O estudioso social examina o fato com a lupa da família e entende que a tendência é de que a postura política do novo eleitorado se torne mais clara e consolidada com o advento da segunda geração de emigrantes. Segundo ele, pesquisas demonstram que, geralmente, os trabalhadores que encontram, em uma nova região, condições de vida melhores do que em sua origem, tendem, em princípio, para a acomodação. “É mais provável que os filhos dos emigrantes sejam mais inconformados e adotem posições esquerdistas”, estabelece. Campos alerta que, por outro lado, o crescimento do número de eleitores pode não ocorrer isolado de aumento da quantidade de candidatos recém-chegados a esses municípios. “Isso não deixa de abrir a porta para oportunistas. Da mesma forma, ainda é cedo para decretar o fim dos chamados ‘currais eleitorais’ e saber que ameaça isso pode significar para os grupos políticos tradicionais ou se irá gerar mudanças de orientação na sociedade”, contrapõe.
Conforme Elton Chacarosque, analista jurídico da 30ª Zona Eleitoral de Rio Verde, muitos deixam para a última hora a regularização e a transferência de seus domicílios eleitorais, o que gera transtornos para o Tribunal Regional Eleitoral (TRE). “O prazo final para a transferência é no dia 7 de maio. Portanto, para evitar novos tumultos, o melhor é que os interessados procurem o órgão o quanto antes”, anuncia.

Questão de cidadania
Vendedor de motos em uma concessionária de Rio Verde, o paulistano Wagner Barreto Neves, 26, é um dos novos rostos que devem comparecer às urnas no município este ano. Estabelecido na cidade há quase quatro anos, ele trocou o desemprego que amargava no maior centro industrial do País pelas novas oportunidades geradas pela agroindústria em Goiás. Agora, defende que a contribuição do trabalho de emigrantes como ele para a economia local credencia o direito a opinar sobre os destinos da cidade. “Estou vendo os problemas e me sinto na tarefa de participar. Para isso, quero usar o maior instrumento político existente, que é o voto”, impõe-se. “É como em um jogo, onde quem está de fora acaba percebendo coisas que os outros não enxergam”, compara.
Para Silvanez Alves dos Santos, 28, vigia de uma empresa de segurança em Rio Verde, a transferência do título para o novo domicílio demonstra também a confiança de criar raízes na cidade. Natural de Currais Novos, no Rio Grande do Norte, ele chegou ao município em 2006 e já providencia a atualização na Justiça Eleitoral. “Pretendo cursar uma faculdade aqui e o título eleitoral devidamente regularizado é uma das exigências. Além disso, acredito que isso mostra para a empresa a perspectiva de continuar no trabalho”, relata. Ele explica que a sua meta é conclamar os familiares do Nordeste a percorrerem a mesma trajetória em busca de crescimento profissional.

Nenhum comentário: