quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Depois da farra vem a ressaca


Cana-de-açúcar


"Derramar cachaça em automóvel
é a coisa mais sem graça de que eu já ouvi falar.
Por que cortar assim nossa alegria
já sabendo que o álcool também vai ter que acabar? (...)
Por que o posto anda comprando tanta cana?
Se o estoque do boteco
já está pra terminar?"
Raul Seixas - Movido a álcool
Fernando Machado

Primeira indústria sucroalcooleira a ser instalada em todo o Centro-Oeste, a Usina Santa Helena de Álcool e Açúcar protocolou um pedido de recuperação judicial, no último dia 20, como forma de dar continuidade às atividades da empresa e assegurar os direitos dos credores. Em um comunicado assinado pela diretoria executiva, conselho de administração e acionistas do Grupo Naoum, responsável pela Usina Santa Helena e outras duas indústrias do ramo, foram apresentados como justificativas do pedido de recuperação o cenário externo desfavorável, aperto de liquidez, compressão de crédito e, principalmente, queda nas cotações dos preços do açúcar (50%) e do etanol (40%).
Para o engenheiro agrônomo Ênio Jaime Fernandes Jr., vice-presidente da Associação dos Produtores de Matéria-Prima para as Indústrias de Bioenergia de Goiás (APMP), o grito de socorro da Usina Santa Helena, instalada há quase meio século no município e responsável por quase 7 mil empregos diretos e indiretos, é o retrato fiel da conjuntura do setor sucroalcooleiro no Estado. Depois de obter índices de crescimento comparáveis somente à China, a expectativa é de que as indústrias, que capitalizaram lucros nos anos anteriores, agora dividam prejuízos com todos os elos da cadeia produtiva.
Segundo o especialista, a expansão desordenada das usinas nos últimos cinco anos e, mais recentemente, a retração das linhas de crédito nos bancos em face à crise internacional, aceleraram o processo de desaparecimento de empresas tradicionais do ramo em Goiás para a fixação de poderosos grupos multinacionais. "Acredito que irá ocorrer uma depuração desse inchaço", observa. Enquanto usinas antigas como a de Santa Helena de Goiás absorvem os impactos da recessão, grupos internacionais como Cargill, Bunge, Cosan e Cabrera continuam investindo maciçamente na construção de novas unidades no Estado. A Brenco, que também pertence a um grupo de capital estrangeiro, está construindo um grande complexo industrial em Mineiros e pretende implantar mais sete no Estado. "Se o mercado retraiu crédito para empresas sadias e com altas margens de lucro, imagine o impacto disso para as empresas tradicionais, que já acumulavam dívidas de antes do boom".
O Estado, que produziu 29 milhões de toneladas de cana no ano passado, deverá repetir a marca, mas boa parte da produção deixará de ser absorvida pelas usinas, afetadas pela queda no preço dos produtos no mercado internacional. "Houve uma decepção com as expectativas de exportação de etanol", conclui Fernandes. Para se ter uma idéia, a produção goiana do ano passado equivale à quantidade de cana que deixará de ser colhida em todo o País no próximo ano. Sem poder vender para as usinas - e com o impedimento de iniciar as próximas safras - a produção agrícola perderá valor no mercado. "Não existe como armazenar cana. Se ela não é colhida, perde a qualidade e inviabiliza as próximas safras."
Custos de produção
Presidente da Comissão de Cana-de-Açúcar da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg), Bartolomeu Brás Pereira afirma que as adversidades do setor sucroalcooleiro são anteriores à crise surgida nos Estados Unidos. "Isso só agravou um problema que não era novo", analisa. Ao contrário das regiões como o interior de São Paulo, onde a monocultura canavieira já era tradicional, o ruralista advoga que a expansão da cultura em Goiás criou necessidade de investimentos irreversíveis por, no mínimo, cinco anos. "O investimento pesado no primeiro ano é diluído nas safras seguintes. Não é possível simplesmente voltar a produzir grãos", relaciona. Segundo ele, o aumento dos custos de produção tornou o futuro dos produtores de cana ainda mais dramático. "Hoje, o prejuízo chega, em média, a dez reais por tonelada", relata. Se no auge da expansão da cultura canavieira, a tonelada do produto atingiu quase R$ 60 no mercado, agora gira em torno de R$ 30.
O aumento substancial dos custos de produção e dos insumos é apontado por ele como sério agravante de um conjunto de fatores que provocou retração nos créditos e pode comprometer investimentos importantes na entressafra, como tratamento da lavoura, início do próximo plantio, manutenção dos equipamentos e vencimento de contratos financeiros. "O crescimento sem a regulamentação necessária deixou o setor desprotegido da influência das crises", reclama. "Quem não tiver gordura para queimar dificilmente sobreviverá", complementa.
Preocupação é o desemprego
Para o secretário estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Paulo Martins, os altos investimentos de grupos internacionais na construção de usinas sucroalcooleiras nos últimos anos em Goiás foram responsáveis por grande parte da geração de empregos no Estado. "A princípio, a maior preocupação do governo é com relação ao aumento do desemprego que a crise pode ocasionar", declara. Cedo ou tarde, argumenta o titular da Seagro, o governo federal terá de atender as reivindicações do setor por novas injeções de crédito no mercado. Caso isso não ocorra, os donos de terra que arrendaram suas propriedades para as usinas terão prejuízos que, segundo Martins, terão reflexos negativos em toda a cadeia do agronegócio.
Ele compara as dificuldades das usinas em Goiás com a crise no setor automobilístico em São Paulo e Minas Gerais. O secretário não descarta a possibilidade de, a exemplo desses Estados, o governo goiano tomar alguma medida emergencial no futuro para conter o agravamento da crise nas indústrias e também no campo. "É válido lembrar que as usinas receberam todo tipo de incentivos fiscais do Estado para a instalação", finaliza.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

"Diferença de votos não é real"


Entrevista Fernando da Folha (PR), prefeito de Jataí


O prefeito de Jataí, Fernando da Folha (PR), conta que acata a derrota eleitoral para o ex-prefeito Humberto Machado (PMDB), mas não admite a diferença de 18 mil votos nas urnas. Segundo ele, o processo eleitoral de Jataí pode ter sido fraudado para que a margem de frente do peemedebista ultrapassasse os 18 mil votos. Na entrevista, concedida em seu gabinete no dia 27, o chefe do Executivo falou sobre a intenção de concorrer internamente com a deputada estadual Cilene Guimarães (PR) por uma candidatura à Assembléia Legislativa em 2010 e antecipou que se reunirá ainda essa semana com lideranças da base aliada do governo estadual para discutir o assunto. O prefeito garantiu que tem aberto as portas da administração para a equipe de transição criada pelo PMDB e que deixará os caixas em situação melhor do que encontrou em 2005. "Deixarei R$ 8 milhões de recursos federais em caixa. Uma sorte que eu não tive", comparou.


Fernando Machado

Tribuna do Plantalto - O senhor assumiu a prefeitura em 2005 se queixando de dívidas deixadas pelo seu antecessor. Em que situação entregará a prefeitura de volta ao PMDB?
Fernando da Folha - Bem melhor do que eu encontrei. É claro que nós não pudemos cumprir com todas as obrigações, mas comprovadamente através de documentos de 2004 e documentos de 2008 eu posso assegurar que será melhor. Inclusive a própria cidade, quando eu assumi a prefeitura, a cidade estava abandonada, esburacada, as máquinas sucateadas. Eu estou entregando diferente, com operação tapa-buraco na cidade inteira e as máquinas estão em perfeitas condições. Muitas delas estão no pátio em função do decreto de contenção de despesas, para que eu possa economizar com manutenção, combustível e até funcionários. Afirmo categoricamente que entrego a prefeitura em uma situação bem melhor do que eu recebi.
Como está sendo feita a contenção de despesas de final de mandato?
Eu determinei a todas as secretarias e departamentos que redobrássemos os esforços para entregar cada pasta com o mínimo possível de problemas. Em dezembro vamos entregar relatórios completos de tudo. A ordem é para entregar a casa em ordem. Sempre fica alguma coisinha. Isso é praxe em todas as prefeituras de pequeno, médio e grande portes. Jataí não é diferente. Vamos fazer o possível para entregar tudo dentro da normalidade.
A que o sr. credita a derrota nas eleições?
A uma série de fatores. No começo divulgamos muito mal a nossa administração. Fomos infelizes na comunicação. Outra coisa foi a oposição raivosa que fizeram contra mim, principalmente o PMDB e uma facção do PSDB, quando alguns vereadores e lideranças do partido romperam comigo e se juntaram pra fazer uma campanha difamatória. Mas o que a gente ouve mesmo na cidade é que o Fernando é muito bom e que o problema foram alguns assessores, que não souberam trabalhar e atrapalharam ele. Então, estou convencido disso porque tenho uma aceitação muito boa em Jataí. Agora eu não concordo é com a diferença. Perder seria normal, assim como vencer novamente. Mas essa diferença de 18 mil votos não é real. Fica uma dúvida no ar. Estamos acompanhando alguns noticiários em nível nacional sobre fraude nas urnas eletrônicas. Isso vai estourar em Jataí também. Alguma coisa de errado aconteceu para que essa diferença fosse tamanha, nunca vista em Jataí. As pesquisas e o caminhamento da campanha na reta final apontavam para o equilíbrio, que infelizmente não aconteceu. Estou conformado com a derrota, mas não com essa diferença de votos que ocorreu.
Existe alguma chance de reconciliação com o PSDB para 2010?
Com certeza. Temos um respeito muito grande pelo senador Marconi Perillo e é ele quem vai conduzir esse processo. Por ele a gente reconcilia. Talvez por algumas pessoas do partido em Jataí ficaria difícil. Mas como os nossos partidos têm lideranças maiores, a gente fica confiante. Nos próximos dias eu devo me encontrar com o senador justamente para discutir o futuro político de Jataí.
O sr. é pré-candidato a deputado estadual?
Quem está na chuva é para se molhar. Eu não vou fugir de nenhuma responsabilidade. Hoje existe um grupo muito grande querendo que eu seja candidato a deputado estadual. Eu tenho o pé no chão e sei que não teria condições de sair candidato a deputado federal. Tudo isso será discutido. Eu tenho compromisso com a deputada Cilene Guimarães, que eu sempre defendi com unhas e dentes. Só que se for a minha vez, ela vai ter que entender. Mas vamos amadurecer essa idéia no segundo semestre de 2009. Eu quero ficar seis meses afastado do convívio político para, aí sim, voltar a discutir 2010 com o nosso núcleo. Eu não acredito que os mandatos serão prorrogados de 2010 para 2012. Acredito que seja mesmo em 2010, e acredito também que talvez estejamos dentro desse processo.
Como se dará a disputa de dentro da base entre o sr. e a deputada Cilene Guimarães pela candidatura à Assembléia?
Eu sempre fui leal à deputada Cilene. Ela também sempre foi muito leal comigo. Não teremos briga interna. Vamos ter entendimento. Se a gente notar que as chances dela são maiores do que as minhas, vamos apoiá-la. Agora, se as minhas chances é que forem maiores, eu espero ter o apoio dela nesse sentido. Tudo será discutido com transparência e sem vaidades pessoais. Eu e a Cilene temos um perfil igual de sermos pessoas simples, humildes e respeitosas. Eu não sei qual é o pensamento do Francisco Gedda ou se ele também quer ser candidato a deputado estadual. Aliás, tenho reuniões e audiências essa semana com o Gedda, o senador Marconi Perillo, Leonardo Vilela e Sandro Mabel para tratar do nosso futuro político.
Existe alguma possibilidade do sr. ser aproveitado por Alcides na estrutura do Estado?
O que é mais importante é que eu e o doutor Alcides temos uma amizade forte, um relacionamento político muito bom e eu primeiro me preocupo com o José Renato, que perdeu a secretaria extraordinária, mas pelas palavras do governador, ele será aproveitado em um cargo bom. Eu não gostaria de puxar o tapete porque acho que seria ou eu ou ele. Nesse caso, eu vou abrir mão pra que o José Renato seja aproveitado, mas se surgir uma oportunidade da gente ser aproveitado estarei à disposição. O governador também é sensível pra que eu participe do governo. O que eu percebo é que aqui no Estado tem muito adversário ocupando cargo comissionado. Vamos, pelo menos, informar isso para a equipe do governador e aproveitar muita gente boa que está ficando desocupada, mas que veste a camisa do governador de verdade.
Em que áreas isso ocorre?
Tem em todas as áreas possíveis e imagináveis. Tem na Celg, Saneago, Delegacia Fiscal, Detran e em outros lugares. Tem muita gente lá que trabalhou para o Maguito Vilela na eleição estadual e também contra o candidato a prefeito do governador em Jataí, que era eu. Na política, isso está constantemente sendo revisto. Você tem de ter gente com compromisso do seu lado. Qualquer pessoa que eu indicar aqui terá sempre compromisso com o governador Alcides, que é nosso líder maior, e também com Marconi.
O prefeito eleito afirmou que estava encontrando dificuldades para ser apresentado à situação financeira da prefeitura. Afinal, a transição já começou?Tem mais de um mês que começou. Na secretaria de saúde e na pasta de agricultura e pecuária, as pessoas da equipe do próximo prefeito têm acesso a todas as informações. Tenho uma comissão de transição, formada por dez secretários e auxiliares, que está esperando de braços abertos para passar qualquer informação ou documento que o PMDB solicitar.
Humberto Machado disse também que a campanha deixou feridas abertas nos candidatos. Há condições da transição transcorrer pacificamente?Os ataques foram acirrados entre o Humberto e o candidato do PSDB, Victor Priori. Eles realmente tiveram atritos muito pesados. Inclusive envolvendo questões familiares. Comigo foi diferente. Eu trabalhei em cima do meu plano de governo, mostrei algumas verdades na campanha, mas nunca desrespeitei ninguém. A minha equipe jamais faltou com o respeito aos adversários. Então, se existe alguma mágoa dele é em relação a 2004, quando ele não quis me apoiar para prefeito e queria me forçar a sair de vice. Eu não aceitei, porque vi que tinha plenas condições de vencer, mas sempre fui respeitoso. Sem tem alguma mágio do Humberto é com o Victor Priori, e não comigo.
Qual é o legado da sua administração para Jataí?
Estou deixando uma marca indelével na área da saúde, já que assumi a prefeitura com três PSFs e estamos deixando 14 em funcionamento. Estou entregando em condições de funcionamento a UTI pública de Jataí, que vai atender toda a região sudoeste através de uma pactuação com os demais municípios. Ela tem os mais altos padrões de tecnologia do País. Isso é um legado e realmente entra para a história da cidade. Na educação, deixo uma marca forte que é a aprovação do Estatuto do Magistério, que valorizou muito a categoria dos professores. Outra marca indiscutível é a industrialização. Sou o prefeito que mais industrializou e gerou empregos em toda a história de Jataí. Colocamos Jataí entre as cidades de maior porte no Estado com o nosso pólo universitário. Quando assumi a prefeitura, tínhamos 14 cursos superiores. Hoje são mais de 30. Consegui um novo fórum, que será o maior do interior. Consegui um novo Cefet, que será também o maior fora da capital e um novo Senac. Implantamos uma clínica de hemodiálise, inclusive com pactuação para toda a região. A cidade está bonita e as praças foram revitalizadas. Estou deixando o processo pronto para transformar o campus da UFG em Universidade Federal do Sudoeste Goiano. Saio de cabeça erguida porque tenho certeza que cumpri a minha missão. Estou deixando R$ 8 milhões de recursos federais para o próximo prefeito. Eu nunca tive essa sorte. Faço isso para que o próximo prefeito possa investir em vários setores do município.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Reitor sondado para 2010





Paulo Eustáquio e Demóstenes Torres, dia 18, na Fesurv. Senador apontou o reitor como nome competitivo para 2010


O reitor da Fesurv, Paulo Eustáquio Resende do Nascimento, foi apontado pelo senador da República Demóstenes Torres (DEM) como uma força em potencial para representar Rio Verde nas eleições de 2010. “É uma referência de eficiência administrativa no município”, certificou. O parlamentar abriu o IV Fórum de Iniciação Científica da Faculdade de Ciências Contábeis, no dia 18, com um debate sobre os 20 anos da Constituição Federal.

Questão partidária

Lembrado por esta coluna de que o reitor figura nos quadros do PP, e não do DEM, o senador reforçou o convite para a troca partidária. No comando da Fesurv desde 2001, Eustáquio teve o nome lembrado nos pleitos anteriores, mas nunca se afastou da instituição. Como ele entrega o cargo em 2012, já começa a pensar com mais carinho sobre o ingresso na corrida eleitoral.

Demóstenes aposta no rompimento Alcides-Marconi


Senador do DEM entende que divórcio entre a dupla seria a única maneira viável para o surgimento de uma terceira via na sucessão estadual de 2010

Fernando Machado

O senador Demóstenes Torres (DEM) acredita que a única possibilidade da próxima eleição estadual não repetir o duelo de 1998 entre Iris Rezende (PMDB) e Marconi Perillo (PSDB) seria a confirmação de um rompimento definitivo entre o governador Alcides Rodrigues (PP) e o senador tucano. A declaração foi proferida no dia 18, quando o parlamentar participou de um ciclo de palestras na Universidade de Rio Verde e demonstrou entusiasmo com uma possibilidade de divórcio político entre o atual governador e o seu antecessor no comando do Estado. "Tudo depende de Alcides resolver abrir uma dissidência do PSDB. Todos dizem que há um desentendimento mais do que político entre os dois. É uma possibilidade que se abre", avaliou o senador. O fortalecimento do PP nas eleições municipais, com o acréscimo no número de prefeitos em todo o Estado, e a perda de representatividade do PSDB no interior deixou as duas legendas em pé de igualdade.Livre do ex-governador e com a força da máquina, prosseguiu Torres na análise, Alcides Rodrigues adquiriria condições para construir uma terceira via "eficiente" e que poderia abrigar aliados como o PR e o próprio DEM. Na avaliação do senador, são poucas as chances do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, liderar um possível novo grupo. Segundo ele, Meirelles tem enviado aos partidos goianos sinais cada vez mais claros de distanciamento da eleição estadual. "O fato de participar do governo Lula torna improvável a aliança dele com o DEM. E a (senadora) Lúcia Vânia já declarou ter perdido as esperanças de que Meirelles seja o candidato do PSDB", acrescentou.
"Zero de arestas"Em caso de permanência da polarização entre PMDB e PSDB na sucessão estadual, de acordo com Demóstenes, o DEM dará suporte à candidatura do senador Marconi Perillo. De acordo com ele, a criação de uma aliança nacional em torno de uma candidatura do PSDB à Presidência da República forçará a convergência entre tucanos e democratas nos Estados para sustentar o projeto nacional. "Essa aliança pode mostrar-se irreversível em nível estadual", pontua. Se isso acontecer, argumentou o congressista, as contendas pessoais entre as lideranças dos dois partidos em Goiás não servirão de obstáculo para uma composição eleitoral. "Eu tenho zero de arestas com Marconi. Sou amigo de Alcides Rodrigues, Iris Rezende e de Marconi", em sinal claro de que está disposto a negociar com todos os lados envolvidos.Apesar de crer na tese de que é mais provável que o DEM apóie uma candidatura majoritária em 2010 do que lance candidato próprio ao Palácio das Esmeraldas, Demóstenes Torres afirma que os resultados da administração do prefeito eleito Juraci Martins em Rio Verde poderão gabaritar a legenda para a disputa estadual. "Tínhamos apenas pequenas municipalidades até então. Com uma prefeitura grande nas mãos, poderemos corresponder às expectativas da população." Conforme a previsão de Torres, o prefeito eleito do DEM irá se tornar uma liderança com influência regional e com capacidade para reger o partido no interior. "Rio Verde foi a nossa São Paulo", sintetizou.
Suporte federalDemóstenes salientou que, em virtude da vitória do DEM em Rio Verde, tanto ele quanto o deputado federal Ronaldo Caiado estão empenhados no Congresso em incluir o município na destinação de recursos orçamentários da União. Ele lembrou que Caiado conseguiu, pela primeira vez, mobilizar a bancada goiana na Câmara Federal para aprovar uma emenda orçamentária expressiva para o município. Os recursos, segundo afirma, poderão ser aplicados pelo futuro prefeito para resolver problemas de infra-estrutura da cidade. "Poderão ser R$ 10 milhões ou então R$ 50 milhões. Depende do relator Delcídio Amaral (PT-MS)." Ele anunciou que conseguiu emplacar no Senado uma emenda extra-orçamentária da União, cujo valor ele preferiu não revelar. "Será um montante bastante expressivo para 2009. Um recurso que a cidade espera há muito tempo", resumiu. Uma das razões da visita do democrata a Rio Verde seria para estabelecer contato com o atual prefeito, Paulo Roberto Cunha (PP), para solicitar a prorrogação de um convênio do município com o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), que expira no próximo dia 30. "Em nível federal as conversas estão bastante adiantadas para que, com a prorrogação desse convênio, possamos resolver o problema da rodovia federal na cidade", relatou. Segundo ele, a parceria com o órgão federal possibilitaria a construção de dois viadutos no trecho da BR 060 em Rio Verde a partir do próximo ano. Acompanhado pelo reitor da Fesurv, Paulo Eustáquio Rezende do Nascimento, Demóstenes Torres assegurou que o município poderá ser contemplado com a instalação de novas universidades públicas e que considera viável a construção de uma faculdade de medicina em Rio Verde. "Já conseguimos levar um curso de medicina para Anápolis. Rio Verde tem tudo para também receber o benefício", comparou. O democrata aproveitou a ocasião para apontar o reitor como um nome local com potencial para as próximas eleições. Paulo Eustáquio, porém, figura nos quadros do PP, mas, segundo o senador, seria "muito bem recebido" no diretório municipal do DEM

Tragédia anunciada

Tragédia anunciada
Estudo demonstra que o cálculo da área de drenagem do Lago Municipal foi subdimensionado e que estrutura é incapaz de dar vazão às aguas da chuva numa área de mais de 40km²

Fernando Machado

Principal promessa de campanha da atual administração, o Lago Municipal constitui uma ameaça iminente a dezenas de bairros de Rio Verde e para a preservação da fauna e flora. A obra, que está sendo feita no Setor Interlagos, já consumiu pelo menos R$ 975 mil de verbas federais advindas do Ministério do Turismo e ainda parece estar longe de ser concluída. Às margens da barragem, onde já deveria ter sido feito o reflorestamento e a construção de uma orla, estão sendo jogados entulhos e caminhões da prefeitura são vistos retirando terra do local. O problema mais grave da obra, contudo, ficou demonstrado em um estudo técnico feito pelo engenheiro agrícola e professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Rio Verde (Cefet) Bruno Botelho Saleh, elaborado a pedido do vereador José Henrique de Freitas. Depois de analisar as imagens via satélite, o especialista chegou à conclusão de que o cálculo da área de drenagem feito pela prefeitura possui graves erros de dimensionamento, colocando em risco a segurança de toda a população que vive às margens do Córrego Esbarrancado e também a fauna e a flora do entorno. As informações contidas em um documento intitulado “Outorga D’água Barramento – Lago”, segundo Saleh, não condizem com a realidade local. O parecer técnico, que já foi enviado pelo vereador para a Promotoria Estadual de Meio Ambiente, descreve que a área de drenagem ou área de contribuição da micro-bacia do Córrego Esbarrancado é quase cinco vezes maior do que o calculado pela Secretaria de Municipal de Obras. Ao invés de apenas 8,9 quilômetros quadrados de área de drenagem, como estimou a prefeitura, as águas do lago serão formadas pelas chuvas que caírem em uma área de 44,18 km². O engenheiro agrícola especializado em Saneamento Rural e Controle Ambiental informa que a capacidade do extravasor de água, considerada a parte mais importante da obra no que diz respeito à segurança, é calculada com base na área de drenagem. Dessa forma, a vazão de enchente pode causar o rompimento da represa. “É impossível prever, mas a tragédia pode acontecer daqui a algumas horas, dias ou meses”, explica.O subdimensionamento da capacidade de vazão da água não leva em consideração a existência de três barragens de médio porte da Fesurv e de um tanque localizado em um pesque-pague dentro da área de contribuição da micro-bacia do Esbarrancado. Saleh lembra que, em fevereiro de 2007, o pivô central das barragens da universidade foram arrombados pela água e afirma que o problema pode se repetir com conseqüências mais graves. “A reconstrução da barragem foi feita sem qualquer critério ou responsabilidade técnica junto à inspetoria do Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia)”, alerta. O professor explica que o rompimento das barragens acima do Lago Municipal causaria um efeito cascata nos tanques de água, que teria conseqüências em vários pontos do perímetro urbano. “Caso ocorra o rompimento, um grande volume de água sairá do Interlagos, onde o lago está situado, atravessará a Avenida Presidente Vargas e irá percorrer vários bairros até parar perto do sistema de tratamento de esgoto da Saneago, na Vila Promissão”, descreve. O processo de urbanização do Setor Interlagos comprometeria ainda mais a segurança da obra. “A impermeabilização do solo causada pela pavimentação asfáltica faz com que a água escoe com mais força e rapidez para o lago. Além disso, o risco do esgoto sanitário contaminar o lençol freático é grande”, complementa.
TransparênciaO vereador José Henrique de Freitas reclama da falta de transparência da Secretaria Municipal de Obras na construção do empreendimento. “O titular da pasta se nega a apresentar o projeto”, critica. Ele considera que os entulhos que estão sendo levados para as margens do lago aumentam a preocupação com a segurança da obra. “Não conseguimos entender a finalidade disso. Será que querem fazer a terraplenagem utilizando entulhos?”, questiona, apontando restos de lixo, como garrafas, sacolas e materiais de construção às margens do lago. Ainda segundo o vereador, a empreitada estaria sendo feita sem ter ocorrido o processo de licitação pública para a escolha da construtora: “Além disso, ninguém sabe informar de quanto é o orçamento da obra. O fato é que a verba para a construção da orla já foi sacado.”Em discussão sobre o assunto na Câmara Municipal na última semana, o vereador Luiz César de Castro, o Cesinha, insinuou que a verba de quase R$ 1 milhão do Ministério do Turismo teria sido desviada pela prefeitura para cobrir gastos com a campanha eleitoral. “Isso é desvio de verba federal”, denunciou. Procurados pela reportagem, os secretários Evandro Fiúza (Obras) e Jair Leão (Agricultura e Meio Ambiente) não foram encontrados para prestar esclarecimentos.

sábado, 31 de maio de 2008

Coluna Palanque 31/05/2008


Entra sem bater

Pouca gente entra e sai do gabinete de Paulo Roberto Cunha (PP) com tanta desenvoltura quanto o ex-secretário de Comunicação, Caxotinho (PTN). Tamanha intimidade já serviu para despertar uma tremenda ciumeira entre a base aliada do município.

De bom grado
Ambicioso, Caxotinho quer mais do que o apoio de Paulo Roberto para a sua pré-candidatura a vereador. Ele está de olho em uma candidatura a deputado estadual em 2010, mas se contentaria de muitíssimo bom grado com a vaga de vice de Leonardo Veloso (PP).

O fator Dione
Com uma reeleição praticamente garantida para o Legislativo, o presidente da Câmara, Dione Vieira Guimarães (PP), pode desempenhar um papel estratégico na eleição majoritária de Rio Verde em outubro. Em 2004, era tido como um azarão. E ganhou. Na eleição para a presidência da Mesa Diretora, ele surpreendeu de novo e se firmou na função.

Casal 20
O ex-presidente da AGIM no governo Marconi Perillo, Aluísio Rodrigues, e sua esposa, a vereadora Noemi Rodrigues, fazem parte da restrita Comissão Provisória do PP, composta por apenas cinco membros. Ele ficou de fora da administração de Alcides Rodrigues e ela, da de Paulo Roberto. Agora, podem mostrar que têm força. Não é nada, eles representam 40% da comissão que irá sabatinar os candidatos do PP ao Executivo e ao Legislativo de Rio Verde.

Neyde, o retorno
Ex-deputada federal, a petista Neyde Aparecida poderá desfrutar de mais dois anos no Congresso, caso Rubens Otoni (PT) conquiste a prefeitura de Anápolis em 2008.

Cassação
Ex-presidente da Câmara de Montividiu, a vereadora Débora Pedroso teve o mandato de parlamentar cassado semana passada pelo TRE por infidelidade partidária. Em 2007, ela trocara o DEM pelo PTN. A parlamentar já disse que vai recorrer.

Pretexto
Adão Mota não deposita a menor fé na pré-candidatura dos pepistas José Lázaro e Zuleika Alves. Novata na política, ela estaria sendo ingênua e utilizada por outros, na opinião do vereador. José Lázaro, segundo Adão, estaria apenas procurando um motivo para abandonar a legenda.

Identidade
O PTB rio-verdense ainda não mostrou a que veio. A sigla, presidida pelo empresário Júlio Capparelli, pouco participa dos debates políticos e não oferece propostas e nem nomes capazes de criar identificação com o eleitorado. Para mudar isso, o partido tentará pegar carona na popularidade de Roberto Jefferson, que vem a Rio Verde essa semana a convite de uma universidade.

Errata
Ao contrário do que foi publicado na nossa edição passada, o Grupo Escoteiro 5 de Agosto retornou em 2004 com os ramos: Lobinho, Escoteiro e Sênior e, desde então, continua normalmente com todas as suas atividades.

Justo tributo ao mito

Prefeito de Rio Verde de 1970 a 1973 e vereador por uma legislatura, Lauro Martins faleceu em janeiro de 2006, aos 80 anos de idade. Agora, pouco mais de dois anos após a sua morte, ele renasce em uma publicação de 322 páginas organizada pelo escritor e colunista da Tribuna do Sudoeste, Filadelfo Borges de Lima, que não dispensou depoimentos de familiares, amigos, comerciantes, radialistas e figuras do berço político da cidade para costurar o trabalho. Recortes de jornais e publicidades de campanhas políticas do passado, assim como um profundo mergulho bibliográfico, desvendam traços do ser humano e do homem público.

O lançamento da obra ocorreu no Salão Social do Sindicato Rural de Rio Verde, dia 28, e contou com a presença do vice-prefeito e secretário estadual de Agricultura, Leonardo Veloso do Prado (sobrinho-neto do biografado), e de Avelar Macedo, secretário municipal de Indústria e Comércio e autor de um testemunho impresso, entre outras personalidades da política e da cultura. O prefácio do livro foi escrito pelo ex-presidente da Assembléia Olímpio Jayme, representado no evento pelo seu filho, Thales Jayme, ambos parentes do personagem central. "Um exemplo de que é perfeitamente fazer política sem sujar as mãos e morrer com dignidade", arrebatou Jayme.

Segundo o autor, Lauro Martins retrata um homem de personalidade intrigante e um administrador público de personalidade consistente. "Certa vez, ao saber que alguém andava furtando peças dos veículos da prefeitura, ele passou horas escondido em um cantinho até pegar o funcionário no pulo", ilustra. O hábito de acordar muito cedo propiciava a oportunidade de se dirigir pessoalmente às frentes de trabalho e, literalmente, derrubar os peões da rede.

Proferindo seus costumeiros palavrões, ao mesmo tempo ralhava e levava ânimo aos trabalhadores. "Apesar do uso constante da gravata, Lauro apreciava mais a informalidade e a troça, dirigida a pessoas (de todas as camadas sociais) de sua intimidade", relata um trecho do livro.

O presidente do Sindicato Rural de Rio Verde, Bairon Araújo, descreve uma pessoa dura e intransigente nas questões éticas. "Podia ser parente, amigo ou o que quer que fosse: desonestidade significava demissão." De acordo com Araújo, apesar da escassez de recursos e da vastidão territorial do município de então, que ainda não havia assistido a emancipação de distritos atualmente importantes, como Montividiu, Castelândia e Santo Antônio da Barra, Lauro Martins se consagrou com a abertura de estradas na zona rural. "Ele se preocupou, e muito, com a correção do solo. Valorizou o setor rural como nenhum outro", certificou.

Família
O trabalho teve origem em uma consulta médica do autor com o cardiologista Paulo César de Carvalho Teles, genro do ex-prefeito, que indagou o escritor sobre a possibilidade de produzir uma obra sobre o saudoso homem público, adiantando que a família forneceria todo o apoio necessário. A empreitada logo conquistou o aval de Maria José Garcia Martins, viúva de Lauro e entusiasta da idéia de render uma justa homenagem ao pai de família honrado e ao advogado que desconcertava os colegas por trabalhar, não raramente, sem aceitar pagamento dos clientes.