A expectativa da população de Santa Helena de Goiás em relação à conclusão do Hospital de Urgências no município é proporcional ao tamanho da obra, orçada em R$ 6,2 milhões. A estrutura de 32 mil metros quadrados está praticamente pronta, mas o mobiliário e os equipamentos ainda não foram instalados. Apesar do anúncio feito pelo governo estadual de inaugurar a unidade neste semestre, poucos trabalhadores são vistos em ação no local. De acordo com a assessoria da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), não existe previsão para o término e a unidade seguirá o mesmo padrão dos hospitais de urgência de Trindade e de Aparecida de Goiânia, com o diferencial de contar com um auditório para 100 pessoas.
A estrutura começou a ser erguida em 2006, com a promessa de desafogar o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), oferecendo 78 leitos de UTI, sendo 36 para internação, 24 para observação, sete de neo-pediatra e 11 para adultos. Enquanto a obra não fica pronta, os 35 mil habitantes de Santa Helena contam com apenas outros dois hospitais, um público e outro particular. O Hospital Regional realiza cerca de 130 consultas por dia e um número incalculável de encaminhamentos diários dos casos cirúrgicos para o Hugo. Como não existe um pacto entre o município de Santa Helena com o Hospital Dr. Gordon de Rio Verde, único posto que conta com leitos de UTI na região, os pacientes mais graves não podem ser transferidos para o município vizinho. A unidade atende mensalmente milhares de pacientes de Acreúna, Maurilândia, Castelândia, Santo Antônio da Barra, Porteirão e Turvelândia. A situação é agravada pela dificuldade do município de contratar profissionais da saúde e casos freqüentes de surtos de doenças na região, como diversos tipos de virose e dengue.
Segundo Maria de Lourdes Jesus Souza, diretora administrativa do Regional, a implantação do Programa de Saúde da Família (PSF) reduziu o número de internações de crianças, mas a medicina preventiva poderia trazer resultados mais sólidos, caso a população utilizasse com mais freqüência os postos de saúde. "A unidade é voltada para casos de urgência, mas realizamos uma grande quantidade de consultas diárias. Fazemos o atendimento, mas sabemos que muitos casos poderiam ser solucionados nos postinhos", afirma. Conforme a diretora, o centro cirúrgico é bem equipado e os medicamentos são suficientes para atender a demanda. Ela admite que a unidade vivenciou um período sem contar com médico anestesista, mas garante que o problema foi sanado. "Não foi por falta de insistência, e sim pela dificuldade de encontrar profissionais."
Estrutura deficiente
Na opinião do vereador Cristian Gomes (PMDB), a falta de um secretário municipal de Saúde compromete diretamente a qualidade do serviço público. Desde outubro do ano passado, quando a então ocupante da pasta faleceu, a função passou a ser exercida pela prefeita Raquel Rodrigues, que ainda acumula o cargo de presidente da Organização das Voluntárias de Goiás (OVG). "Ela simplesmente não tem tempo para administrar o setor com a merecida atenção", analisa o oponente da primeira dama do Estado. Já em operação em outros municípios do Sudoeste, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ainda não entrou em funcionamento em Santa Helena. Contudo, para o vereador, o programa do governo federal não impedirá que os pacientes continuem sendo levados para a capital. Segundo ele, a rede municipal ainda não contratou cirurgiões anestesistas e padece com a escassez de outros especialistas, como pediatras e ginecologistas. "Poucos médicos aceitam trabalhar em Santa Helena por causa das péssimas condições de trabalho e falta de aparelhos", reclama.
Na fila de espera do Hospital Municipal no último dia 29, o autônomo Antônio Gomes da Silva, 65 anos, aguardava atendimento para uma consulta marcada com um mês de antecedência. "Eles reclamam que a gente não procura os postos de saúde, mas quem está sofrendo dores tem pressa. Tem coisas que não dá para esperar", protestou. Ele estava acompanhado de sua esposa, a doméstica Carmélia de Souza Mendonça, 55, que reclamou da falta de aparelhos. "Meu filho morreu aqui quatro anos atrás. O médico diagnosticou sinusite, mas ele tinha pneumonia. Quando ele foi encaminhado para Goiânia, já era tarde", acusou.
Preocupada com a febre da netinha, a auxiliar de serviços gerais Dalva Maria Mendonça da Silva, 50 anos, desembolsou R$ 120 para que a criança fosse examinada no Hospital Santa Helena. "Como não tenho plano de saúde e o hospital é particular, tenho de pagar à vista. Sei que isso vai fazer falta no orçamento, porém é o único jeito para quem não pode esperar muito tempo", exprimiu. Na instituição, o Sistema Único de Saúde (SUS) só dá cobertura para os casos de internação.
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